O discurso corrente se baseia em empathy gambles -- em apostas de que as outras pessoas vão ser movidas sentimentalmente por apelos reiterados. Quero dizer que: grande parte do que se publica online presume uma extensão infinita da minha capacidade de me importar.
OK.
Neste texto, por exemplo, em que a autora conta de sua experiência sexual; diz que seu parceiro foi cuidadoso o suficiente para pedir permissão em cada etapa do processo, mas ela queria mais: ela queria que ele fosse movido menos pelo desejo de autopreservação e mais porque genuinamente se importa. Ou: ela quer uma adoção generalizada de uma ética da virtude em vez do contentamento com um consequencialismo vazio.
Suspeito, aqui, como leigo, que seja pedir demais de um one night stand.
Entro no Youtube casualmente e alguém reclama de alguma mudança na plataforma. Provavelmente porque os "criadores" (haha) vão ganhar menos dinheiro. Veja este vídeo de 23 minutos detalhando todo o sofrimento de quem publica vídeos online. Ou talvez este outro. E mais aquele, que detalha todos os esquemas sórdidos do Youtube para destruir a renda e a sanidade de sua comunidade.
Você já parou pra pensar em como o app satânico Uber está destruindo a vida de taxistas inocentes? Como eles vão alimentar as próprias famílias? Não apenas eles: turns out que os motoristas do próprio Uber são maltratados, não ganham o suficiente, trabalham longas horas.
E os músicos, que agora são obrigados a se contentar com as migalhas do Spotify? Por que o consumo de música não pode ser mais humano, feito sob uma perspectiva de cuidado com o próximo?
Para todo lugar que se olha, são expostas agruras econômicas e sofrimentos sociais que demandam nossa atenção e sua empatia deve ser estendida accordingly.
Alguns apontam para a outrage fatigue, como se seus sentimentos estivessem sendo realmente ativados a todo momento por pedidos constantes de atenção e empatia.
Mas eu não concordo, porque os empathy gambles sequer chegam ao ponto de partida: fazer com que eu me importe. Todos presumem que, se minha atenção for apropriadamente direcionada, eu vou me importar com o plight da mulher moderna, que só quer ser amada por seu Tinder hookup, ou pelos problemas econômicos inimagináveis de músicos, produtores de vídeo, motoristas de aplicativo.
Não chego ao ponto de estar fatigado do ultraje constante porque não me ultrajo; simplesmente sou uma casca inerte aos apelos do discurso online.
A arte, de forma geral, é um exercício de empatia.
Cérebros humanos, afinal, são incapazes de sentir tudo que os outros sentem; é ineficiente como estratégia de sobrevivência. Capazes de empatia limitada para com os mais próximos, conseguimos estendê-la através de produtos artísticos, de perspectivas retratadas em mídia. Personagens cativam por isso, porque eles conseguem nos fazer ver o mundo pelos seus olhos; não porque eles são relatable desde o princípio, mas porque as melhores obras fazem uma ponte entre duas mentes díspares. Mídias fazem seus próprios empathy plays. Mas são menos apostas: se baseiam no fato verificável de que, ao mostrar um novo universo, você vai ser capaz de se importar.
É um contraste perfeito com o discurso geral da internet, que imagina que vai conseguir wish into existence um comprometimento geral com suas pautas; com minorias, mulheres, motoristas do Uber, descamisados, Rafael Braga. Por sinal, você já pensou em contribuir para o meu Patreon?
Quem é realmente capaz de se importar?
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