26 de novembro de 2018
Com exceção deste texto, todos os meus outros posts contém uma frase no meio, desconectada do tema geral, que são spoilers de alguma mídia em evidência
Spoiler alert: O texto a seguir contém spoilers de absolutamente tudo.
Normies amam plots.
Uma explicação completa para o fenômeno me escapa, mas posso esboçá-la.
Na minha cabeça, a série mais normie de todos os tempos é Prison Break. Ela tem muito plot. É sobre escapar de uma prisão, e tem um mapa elaboradíssimo em uma tatuagem, e um cara comete um crime pra ser preso e executar um plano de escape com o seu irmão. Coisas acontecem, ação ocorre, fatos se sequenciam.
A mente normie ama a proatividade do enredo em contraposição à passividade reflexiva. Em séries mainstream, nas mais bem sucedidas, há muitos fatos.
Game of Thrones. The Walking Dead. Supernatural, talvez? Todas séries em que o fator preponderante é o plot. Não personagens, temas, poética, cenário -- os fatos.
Não à toa, há um pânico moral em torno de spoilers, uma epidemia de spoiler alerts. Arte não é discutida, falada e evidenciada, mas escondida, porque seu único chamariz é a surpresa do que pode acontecer, o espanto. O tipo mais pobre de fascinação.
Imagino que parte disso tenha a ver com a pobreza de gêneros artísticos do ocidente. Como neandertais, só conhecemos drama e comédia; a riqueza, digamos, dos gêneros de anime se perde ao transicionar para os EUA (que é onde se filtra o conteúdo universal repassado para os satélites, como o Brasil).
Veja um grande fenômeno ocidental em anime: Shingeki no Kyojin. Plot-heavy drivel, é o que esse programa é. Incapaz de construir um personagem interessante, mas tanta coisa acontece, tantos fatos se encadeiam, tantas surpresas se revelam. Humanóides gigantes atacam uma cidade fortificada! Pessoas são comidas vivas por esses seres monstruosos!
Qual será o próximo choque? Quem será a próxima vítima da pena mortífera de George R.R. Martin?
As audiências mainstream vivem num relacionamento abusivo com os autores, que constantemente lhes privam das respostas basilares. São subs proibidos pelos dom authors de tocar os sensitive spots logo antes de gozar.
Algo interessante, pra mim, é que o slice of life é um gênero muito aceito no Japão, mas anátema no mainstream ocidental. Geralmente, é algo reservado a produções indie contemplativas, filmes ultra boring feitos pra meia dúzia assistir. Yet, se você for weeb, já está treinado para assistir conteúdo em que nada acontece, onde não há evolução nenhuma, em que cute girls doing cute things é perfeitamente aceitável como gênero.
E não tem spoiler possível. You can just release it now.
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