31 de dezembro de 2018
A arquitetura do eterno
No 31 de dezembro, eu me encontro do final do Tempo. Não há nada depois deste momento, então só nos resta recordar o que ocorreu no resto do Tempo, quando o universo ainda ocorria.
Num desenvolvimento surpreendente de eventos, pretendo me mudar para São Paulo. Lembro de anos remotos, vivendo, como a maior parte dos capixabas, no Espírito Santo. Até que ocorreu a diáspora do nosso povo. Espalhados pelo mundo, sem um senso de identidade, vivemos numa busca incessante por uma sentido que inexiste além da crença de que nós, sim, nós não temos sotaque.
Como um absoluto idiota, em vez de avançar o plot da minha vida, me mudei para Recife, onde passei 14 anos antes de vir para o Rio de Janeiro. Mediante análise aprofundada de mapas do Brasil, o leitor atento percebe que Recife é muito mais longe de São Paulo que o Rio de Janeiro. Parece insanidade porque é.
E agora, no Rio de Janeiro há 3 anos, me vejo de malas prontas para São Paulo, como um múltiplo retirante que se recusava a aceitar o próprio destino, como se São Paulo não fosse o destino óbvio desde sempre. Agora, minha finalidade predeterminada se aproxima.
Se existe uma coisa que me irrita profundamente é o pacing da minha vida. O plot da minha existência simplesmente não avança num compasso adequado, evoluindo paulatinamente. O personagem principal, eu, sequer mostra sinais de desenvolvimento. Se sua existência não fosse tão inextricavelmente ligada ao meu senso de self, certamente eu já teria dropado a série.
Minha vida, eu diria, é mal escrita, mal dirigida. São Paulo finalmente me permitirá explorar o endgame content.
Nunca houve qualquer outra alternativa, porque enquanto escritor, eu faço parte da classe de empregados em trabalhos artificiais keynesianos. O único lugar que sustenta pesos sociais dessa laia é a terra da garoa. São Paulo juntou uma massa crítica de gente como eu, nódulos no multiplicador monetário, assalariados que servem apenas para receber dinheiro, passá-lo para frente e aumentar o fator de velocidade da moeda.
Eu gostaria de encontrar um throughline, uma linha temática que amarre todos os eventos de 2018. Como millennial, minha existência se dá em estado de fluxo. Meu sonho era conquistar estrutura. Uma casa, uma família; a confiança reconfortante no fim do dia que meu lugar na ordem geral das coisas estava assegurado.
Fracassei. Não consegui construir nem uma casa, nem uma família, nem estabelecer um status quo seguro. O que eu sempre busquei foi a certeza de que minhas ações são causa e têm efeitos determinados. Assim, eu poderia me estabelecer objetivos claros, trabalhar em direção a eles e, finalmente, retornar ao status quo: minha casa, meu lar, minha família, um porto seguro.
Todos os eventos fazem sentido numa escala impossivelmente grande. A batalha humana é comprimir uma estrutura que faz sentido em termos universais para uma escala microscópica que encaixe num cérebro primata. É fútil.
Essa é a lição de 2018. O tempo foi destruído. Embrace the random.
Feliz 2019.
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