1 de dezembro de 2018

Monetized into meaninglessness



O final do documentário Fighting in the Age of Loneliness (doravante FitAoL), depois de uma resenha geralmente correta sobre o estado do MMA em 2018, traz a seguinte passagem:
Fighting has rid itself from so much of its magic. It does not transcend the world anymore. It is our world. If you somehow made it to the end of this and you're not an MMA fan, I hope you take away one thing from all of this: This will happen to everything that you love. Nothing you like will remain untouched, and it will get further and further monetized into meaninglessness.
Essa passagem martelou na minha cabeça por algum tempo, principalmente porque, no mesmo dia, vi outro documentário: Stay Free: The Team Spooky Story. Para meu hipotético leitor que não conhece o Team Spooky, é o maior canal de transmissão de torneios de jogos de luta. E essas são duas coisas que eu amo: MMA e jogos de luta. É difícil até diferenciar as duas coisas na minha cabeça; são fight cards.

A pessoa Spooky, Victor Fontanez, era só um cara qualquer que decidiu fazer torneios de Melty Blood na calçada em Nova York e gravar os vídeos para colocar na internet. Eventualmente, ele abriu um canal no Justin.tv e, mais tarde, no Twitch. Como o próprio Spooky era respeitado na Fighting Game Community, ele começou a fazer torneios cada vez maiores.

Até que, em 2010, nas finais de Super Street Fighter IV no EVO, o maior torneio da FGC, o stream oficial caiu. A decepção generalizada levou a uma campanha para que o Spooky assumisse as transmissões do EVO.

Parte interessante dessa história é que, com status ascendente, o EVO seria transmitido pela IGN. O dilema era: nós monetizamos nosso torneio into meaninglessness ou damos a transmissão para esse cara qualquer que jogava Melty na calçada?

Spooky fez o stream.

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O MMA em 2018 é tão absolutamente corporativo, amorfo, polido. É um produto perfeitamente degustável e descartável. Todo o teatro de Conor McGregor cheira a ensaiado, a roteirizado, ensaboado, scripted com tropes enfadonhos. Suas brigas fora do cage soam premeditadas. E os stakes são baixíssimos. Conor McGregor nunca vai ser preso, não importa quantos carrinhos de mala ele arremessar em ônibus de outras pessoas.

O UFC está na TV, com um schedule muito previsível: se uma luta acabar muito cedo, nós temos 15 minutos de filler com pundits usando gravatas nas mesas decoradas com uma quantidade exorbitante de LED. Todos os nossos atletas são uniformizados e fazem testes antidoping aleatórios.

Lembra do Pride? Com lutas com figuras burlescas como Zuluzinho e Hong-Man Choi, e a run absurda de Maurício Shogun Rua no Pride GP de 2005, que jamais vai ser superada. Um evento quirky, feito por pessoas quirky, ocasionalmente pagas pela máfia japonesa. Isso nunca mais vai acontecer.

Com um sorriso no rosto, o UFC agora é um produto perfeito. O caminho natural, aponta FitAoL, é adotar a exclamação do Jeb Bush:



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Nós presumimos que esse é o rumo inevitável do capitalismo: você tem algo de valor potencial, que se transforma em hobby, cresce em adeptos, recebe dinheiro e se reempacota como produto. No caminho, você perde toda a estranheza original da comunidade em prol da acessibilidade total.

O MMA, um outlet de pessoas esquisitas, que seguiram rumos estranhos e eram frequentemente pagas em maletas de dinheiro por yakuza no Japão para lutar, agora é um esporte perfeitamente pasteurizado. Em Stay Free, Seth Killian diz que a estratégia principal para mostrar que torneios de jogos de luta importavam era colocar cada vez mais dinheiro.

Dana White sonhava com a uniformidade e a respeitabilidade que as grandes redes de TV dariam ao UFC. Seriam comparáveis aos esportes veneráveis: futebol americano, basquete. Commodities estabelecidas.

É a estratégia de vendas do capitalismo corporativo -- a única que ele conhece. O leitor pode observar que o dinheiro entra em atividades de todo tipo de maneira: em torneios de Muay Thai, onde as apostas alimentam todo o negócio. Nos prize pots de jogos de luta. Em lutas de MMA, o sujeito faz uma tatuagem com uma marca ou raspa os pelos do peito para fazer propaganda de outra. O short de um lutador traz a marca Condom Depot.

Por todos os nichos culturais, o dinheiro flui de forma caótica.

O capitalismo corporativo se esforça para disciplinar esse fluxo. Elas secam todos os elementos caóticos e eminentemente atraentes à cultura interna do nicho para sacrificá-los no altar da Presentation. O salto em production values de qualquer coisa sempre é acompanhado, eu observo, pela destruição de qualquer tipo de personalidade. O dinheiro que flui no seu torneio é invisível, ilegível para entidades como o IGN ou a ESPN. Por isso, a torneira deles é sempre fechada.

Não precisa ser assim. É possível escolher o Team Spooky em vez do IGN.

A produção de mídia em 2018 é avessa à uniformidade e refratária à respeitabilidade. É possível abraçar o aleatório e, com isso, monetize the things you love into meaningfulness.

Um comentário:

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