20 de agosto de 2004

A Empresa Motivacional

Semana passada um perdedor ministrou uma palestra motivacional - e eu vi. Ele disse que foi gordo, feio, burro, mas que hoje é magro, bonito, inteligente e trabalha na Petrobras. E, ah, ele montou uma empresa de motivação. Já imaginou o que faz uma empresa de motivação? Imagino que eles te arranjem uma namorada(o), façam uma lipoaspiração em você e paguem cursos técnicos de pesca esportiva.

Eu ficaria muito motivado se soubesse pescar. Lembro-me dos grandes anos que morei no Espírito Santo. Nunca fisguei um marlim na temporada de pesca na orla de Vitória. Também nunca tentei, mas tenho certeza de que é difícil. Se eu tivesse uma firma motivacional, colocaria marlins nos anzóis de todas as pessoas do mundo, fazendo-as ficarem felizes, alegres e, quem sabe, contentes. E mandaria um fotógrafo tirar uma foto da pessoa recém-feliz enquanto ela segura o marlim pela boca. Se fizessem isso comigo, eu guardaria a foto realizado e jogaria o peixe de volta no mar. Odeio peixe.

Mas acho que o operário da Petrobras que nos ensinava a ser motivado não faz esse tipo de coisa legal na firma dele. Ele te ensina a memorizar palavras. Um método tão eficiente quanto tentar quebrar uma jaca com a cabeça. Digo, uma cabeça normal. Rapaz, minha cabeça até quebraria uma jaca.

O motivado segurava um microfone enquanto falava. Ele girava a cabeça mas o microfone não acompanhava o movimento. Houve um momento em que o microfone ficou na orelha dele. Claro, aquilo me motivou muito a ser um vencedor magro, bonito, inteligente e servidor público da Petrobras. Quando eu estivesse no auge, usaria microfones como cotonetes!

Não tenho dinheiro para ficar limpando meu ouvido com um microfone, mas se isso faz daquele rapaz um vencedor, eu não sei mais o que é um perdedor. Duvido que ele já pescou um marlim. Se já o tivesse feito, não fundaria uma empresa motivacional dessas. Andaria pela rua com o nariz empinado, ignorando os outros seres inferiores que nunca fisgaram um. É, é, aí sim ele seria auto-confiante, aí sim.

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