10 de agosto de 2004

Da época de Cavaleiro

Certa vez eu quis jogar uma judoca grega pela varanda do meu apartamento. Então, a polícia me perseguiria e eu me jogaria da mesma varanda, arrependido pelo que havia feito. Mas logo desisti dessa idéia.

Desisti porque percebi que me machucaria muito. Covarde não morre cedo. Teria que descobrir uma alternativa para poder me jogar da janela. Pensei bastante até achar uma alternativa viável: tornar-me um Cavaleiro do Zodíaco.

Uma coisa que sempre me deixou intrigado foi o fato de tirarmos o gesso após concluírmos o tratamento de uma fratura ou luxação. É um grande contrassenso da medicina atual. Devíamos ficar com o gesso para sempre. Inclusive se não tivéssemos nenhum tipo de deficiência. Gessos nos deixam muito mais fortes.

Lembro de quando eu quebrei um braço, durante a infância. Tirando a dor e o sofrimento, usar um suporte de gesso enfaixado extremamente pesado foi maravilhoso. Aumentou bastante meu poder de ataque e defesa. Toda vez que ia bater uma pelada com aquele braço enfaixado, eu chegava empurrando todo mundo e, ah, ninguém - ninguém - conseguia me vencer no jogo de corpo. Meu braço deficiente servia como uma armadura. Avançava para cima de um moleque do time rival e ele era derrubado pelo meu vigor corporal do braço deficiente.

E aquela época com o braço desgraçadamente fodido foi minha época de Cavaleiro do Zodíaco. E as faixas e o gesso eram minha armadura. E isso não é brincadeira, não. Eu era bem mais poderoso com o braço enrolado. Se pudesse, usaria até hoje aquelas fenomenais gazes para destruir qualquer inimigo em potencial.

É claro que se usássemos a nosso bel prazer o poder do gesso terapêutico, teríamos uma série de incompetências, já que não moveríamos nossos membros direito. Provavelmente não estaria escrevendo este texto, já que meus dedos atrofiar-se-iam pelo desuso.

Em compensação, eu seria muito mais forte e atrairia muito mais mulheres com minha força monumental. Meus sonhos seriam realizados e eu não teria mais vontades. Jogaria muitas namoradas judocas da varanda, para me jogar em seguida.

Mas, droga, não usei gessos durante toda a minha vida e não tenho força. Só tenho essas inúteis habilidades manuais de precisão - escrita, digitação, desenho, origami, boxe tailandês. Não sou o que eu sonho. Se usasse um maravilhoso gesso, tudo seria diferente.

*Estala os dedos em expressão de desapontamento*

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