16 de novembro de 2018

Rascunho de um ensaio sobre a distribuição de poder



James C. Scott observa, em The Art of Not Being Governed, que a territorialidade dos estados do sudeste asiático no período pré-moderno podia ser visualizada como uma série de círculos em volta das capitais dos reinos, que buscavam perpetuamente expandir sua influência e, frequentemente, chegavam ao domínio reclamado de outro reino. O mapa da região, assim, seria um diagrama de Venn de jurisdições concorrentes, que variam no tempo de acordo com a capacidade extrativa de um estado.

Num território acidentado como do Sudeste Asiático, um período de monções podia tornar simplesmente inviável o exercício do state-making numa região "pertencente" ao reino: coletores de impostos simplesmente não conseguem extrair o excedente para a capital.

Scott é cuidadoso em delimitar suas observações ao passado; para ele, o estado-nação centralizado moderno certamente é capaz de controlar todo o território que é definido numa cor uniforme num mapa mundi. Mas eu não sou um scholar, não tenho nenhum cuidado. De fato, o mapa mundi moderno é uma fraude.

Isso é trivial quando pensamos nas dezenas (centenas? milhares?) de disputas territoriais no mundo que são planificadas sob uma cor só nos mapas aprovados. Obviamente Taiwan não é China. Mapas são, também, propaganda. Talvez sejam primariamente propaganda.

Isso me faz pensar na uniformidade com que se trata o Brasil -- principalmente pelo fato de que, pelo menos nos últimos 100 anos, não há qualquer esforço separatista real. No entanto, o estado brasileiro é fragmentado.

Estados são sempre exercícios no estabelecimento de vassalagens. Os países desenvolvidos aparentemente foram capazes de estabelecer sistemas de vassalagem sofisticados, em que as periferias estão plenamente integradas ao poder central. Países como o Brasil não conseguem fazer o mesmo. Os sistemas de power stacking dentro do estado ainda são primitivos.

Acabo de notar que este texto vai ter uns 40 parágrafos, então retorno ao assunto amanhã. Vou desenhar uma linha de coerência entre os temas de que quero tratar.

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