Uma das passagens literárias que permaneceram comigo ao longo dos anos é esta, de Thomas Paine em Age of Reason, parte II, seção 18 (p. 137, nesta edição):
We have not in all cases the same form, nor in any case the same matter that composed our bodies twenty or thirty years ago; and yet we are conscious of being the same persons. Even legs and arms, which make up almost half the human frame, are not necessary to the consciousness of existence. These may be lost or taken away, and the full consciousness of existence remain; and were their place supplied by wings, or other appendages, we cannot conceive that it would alter our consciousness of existence. In short, we know not how much, or rather how little, of our composition it is, and how exquisitely fine that little is, that creates in us this consciousness of existence; and all beyond that is like the pulp of a peach, distinct and separate from the vegetative speck in the kernel.Desde que eu li esse trecho, há vários anos, ele acaba reaparecendo na minha cabeça vez ou outra.
Who can say by what exceedingly fine action of fine matter it is that a thought is produced in what we call the mind? And yet that thought when produced, as I now produce the thought I am writing, is capable of becoming immortal, and is the only production of man that has that capacity.
Statues of brass or marble will perish; and statues made in imitation of them are not the same statues, nor the same workmanship, any more than the copy of a picture is the same picture. But print and reprint a thought a thousand times over, and that with materials of any kind -- carve it in wood or engrave it on stone, the thought is eternally and identically the same thought in every case. It has a capacity of unimpaired existence, unaffected by change of matter, and is essentially distinct and of a nature different from every thing else that we know or can conceive. If, then, the thing produced has in itself a capacity of being immortal, it is more than a token that the power that produced it, which is the self-same thing as consciousness of existence, can be immortal also; and that as independently of the matter it was first connected with, as the thought is of the printing or writing it first appeared in. The one idea is not more difficult to believe than the other, and we can see that one is true.
Entrei hoje num rabbit hole de arquivismo. Comecei a ver palestras do Jason Scott, responsável pelo Textfiles.com e um dos fundadores do Archive Team, um obcecado pela preservação da memória digital.
Ao longo das últimas duas semanas, movido pelo desafio autoimposto de escrever todos os dias, descobri que ainda me importo com este blog e com as coisas que eu escrevi nos últimos, o quê?, 15 anos a esta altura? Textos antigos meus são constrangedores e, na maior parte do tempo, eu passo a odiar o que eu escrevi 2 minutos depois de apertar o botão Publish; mas eu consigo apreciar sua existência, sua importância contextual, sua relevância como pedra fundante do que eu me tornei e do que este blog se tornou.
E, afinal, como mostra Paine, há uma transcendentalidade em escrever, gerar uma ideia e passá-la para frente. E, talvez ao envelhecer, embora eu ainda esteja longe do meu primeiro enfarte (fingers crossed), eu busque essa palpabilidade. Existe algo aqui de real importância? Eu não sei e talvez nunca tenha distanciamento suficiente para descobrir -- mas é possível que sim.
Parei de dar importância para os little funny bits que eu postava aqui com o passar do tempo porque assumi responsabilidades; passei a fazer Trabalho Real Que Paga as Contas e é isso que importa, we're told. Mas passei a ver no meu day job uma transitoriedade muito maior do que naquilo que eu simplesmente faço pra jogar para o mundo (aqui), esperando quase nada de volta.
O medo da morte é o coração do capitalismo, diria Ernest Becker, e para garantir minha imortalidade, acho que chegou a hora de seguir a sugestão de Jason Scott (este texto virou uma salada de nomes, but bear with me) e arquivar. O fato de que este site ainda está hospedado no Blogger, assim como outros que compilam coisas que eu fiz ao longo dos anos, me perturba. Em um mês, o Google pode decidir que o Blogger não comanda mais o mindshare suficiente para mantê-lo em funcionamento. Ou ele pode decidir isso amanhã mesmo e eu jamais vou saber.
Por isso, decidi que vou migrar este blog (e qualquer outra coisa que eu tenha escrito) para algum lugar. Possivelmente um blog em Wordpress num servidor próprio, custeado por cash money. O poder que produz estes pensamentos pode ser eterno, só que eu preciso fazer o backup.
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