20 de novembro de 2018

Never pay your dues



Aconteceu: 242 pessoas entraram neste blog hoje. Em geral, não presto atenção para esse tipo de estatística; este blog vive abandonado há 10 anos, testemunha ocasional de um arroubo de semicriatividade. Duzentas e quarenta e duas pessoas não é um número impressionante -- é baixo, em termos de internet, irrisório. Mas digno de nota, porque eu não imaginava que entraria tanta gente. Chutava cerca de 30 pessoas, todas caídas por alguma busca irrelevante do Google; 50% seriam frustrados com a cartomante de quem eu escrevi em 2011.

Por anos, fui fascinado com a ideia de pay your dues: o sucesso não é automático e claramente é necessário agonizar por anos no anonimato, não só para construir sua reputação, mas também para encontrar sua voz, sua identidade criativa. É uma forma bonita, clean, de colocar o desenvolvimento criativo, profissional, whatever. Americanos, sinto eu, são intuitivamente capazes de construir sistemas simplificados para qualquer empreitada.

Imagino que essa ideia tenha algo a ver com a fascinação natural que eles (os americajin) têm pela ideia de identidade. Meu trabalho, como manifestação da minha vocação, é parte fundante da minha identidade. As such, eu preciso me encontrar, encontrar meu estilo, antes que eu possa encontrar o sucesso, que é inextricável da minha essência. It fits so neatly, eu sinto que poderia ouvido falar disso num dos vlogs inspiradores do John Green.

Claro, a ideia é perfeitamente falsa. O sucesso é caótico. Ele ocorre -- ou most likely não ocorre -- por motivos aleatórios fora do seu controle. Os criativos da internet atual, aqueles que conseguiram explorar ao máximo os formatos dominantes (streams do Twitch, vídeos do Youtube) contam suas jornadas ao estrelato e elas se tornam gospel. São todas narrativas, stories, com causas delimitadas, definidas pela volição humana. Como Luciano Huck contando a história de Whindersson Nunes, que se alçou da pobreza através de seu sheer power of will.

Aos 31 anos, minhas sensibilidades estéticas já estão mais bem formadas, meu humor estabelecido, minha escrita tem algo que se assemelha a um estilo. Talvez esses fossem os dues que eu tivesse que pagar antes do meu inevitável sucesso, mas duvido. Não acho que minha escrita daqui, nestes termos jamais vá ter amplo apelo. Cumprindo o desafio de escrever todos os dias, porém, percebo que é algo que me dá prazer. Outra coisa que me dá prazer é saber que pessoas entraram aqui diretamente, se interessaram o suficiente em clicar num link que não foi servido pelo algoritmo, com um título previamente mastigado que sumariza todo o conteúdo do texto.

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