28 de novembro de 2005

Emos

Emos não valem um post.

25 de novembro de 2005

Ateísmo

Nunca falei neste blog sobre nada do que acredito ou desacredito, creio até que nunca comentei sobre nenhuma pessoalidade minha aqui. Discorrerei um pouco, então, sobre meu ateísmo, já que nada tenho para fazer e não posto aqui faz muito tempo. (Quando eu passar muito tempo sem escrever nada, vocês devem pedir também à Noodle para escrever. Guardem bem isso.)

À primeira vista, parece desnecessário discorrer sobre o ateísmo, que é tão somente a negação de uma crença e não um conjunto organizado de pensamentos, mas considero ser mais que necessário falar do assunto. Em primeiro lugar, rejeito veementemente a idéia de que não se deve organizar um pensamento baseado numa não-idéia. Claro que devemos organizar um pensamento de pessoas que não acreditam em Deus. Exemplifico. Digamos que todas as pessoas do mundo acreditem na idéia idiota de que usar boné é bonito. Eu, ao contrário, recuso tal crença, a qual não tem a menor base factual; sou, conseqüentemente, um aboneísta. Ora, por que o aboneísmo não pode ser um conjunto organizado de pensamentos baseado na rejeição de uma fé? Pelo contrário, o aboneísmo tem quase a obrigação moral de ser um conjunto coeso de pensamentos baseado no axioma de que bonés são estúpidos.

A propósito, falando em moral, teístas perguntam freqüentemente aos ateus como podemos ter condutas morais se não temos uma referência do bem. Bom, isso é verdade, não temos nenhuma referência moral, mas você ganha esse relógio bacana aqui (mostro o relógio) se deixar de acreditar em Deus. A escolha é sua: crença em Deus x relógio com bússola. Não me levem a mal, crentes; os ateus são tão amorais que vieram com a mesma proposta quando eu ainda era católico, foi irresistível. Acho que, se você for um pouco mais resistente que eu, ainda farão a oferta uma caneta com laser junto com o relógio. Aí não tem jeito mesmo, não fique triste.

Perguntam-me ainda qual a beleza do prospecto de não haver nada no post mortem. Dizem-me que nascer, morrer e ser comido pelos vermes abaixo da terra é uma visão muito estreita da existência. Olha só, visão estreita é a que os teístas têm de ficar apodrecendo enterrado; coisa maravilhosa, aquele cheirinho de terra molhada, hum. E, ademais, serviremos no post mortem de adubo para as florezinhas mais lindas deste planeta. Nada pode ser mais belo do que isso. Feio, digo-lhes, é querer ir para um céu sem flores (ouvi dizer que flores não dão em nuvens) e sem relógios com bússola.

9 de novembro de 2005

Tragédia

- Ficou sabendo do que aconteceu na casa da Elizângela?
- Não, me conta!
- Ah, você nem vai querer saber...
- É verdade, não vou.
- Então vou contar, adoro fazer coisas contra a vontade das pessoas. Foi o seguinte, a Elizângela, com aquela carinha de santinha, estava traindo o Alberto com o Marcone!
- Mentira!
- É a mais pura verdade! E, noutro dia, acho que foi na segunda ou na quinta-feira, não lembro bem, o Alberto chegou em seu apartamento e flagrou-a! Flagrou-a tomando chá com o Marcone!
- Meu Jesus amado...
- Pois é, nem preciso lhe dizer como o Alberto ficou irado, né? Começou uma briga enorme na casa da Elizângela, voou chá para todo lado, uma cena horrível de se ver. O Alberto avançou para cima do Marcone, eles se estapearam, ficaram os dois todo estropiados, até que o Alberto pegou uma arma em sua mesa de cabeceira, cruzes, não gosto nem de lembrar...
- Imagino como deve ter sido.
- Ele pegou a arma e saiu atirando no Marcone. O Marcone, que não é bobo nem nada, se escondeu atrás do guarda-roupa. Perto do guarda-roupa tinha uma janela e o Marcone fugiu por ela, só que ele se esqueceu que a Elizângela mora no décimo-segundo andar!
- Ah, meu Deus, que tragédia!
- E não é? Ele saiu voando, o Alberto apareceu na janela e o Marcone disparou um raio laser ótico no infeliz! Uma desgraça sem tamanho.

22 de outubro de 2005

Referendo

Chamam-me para vários debates sobre o referendo, para que eu defenda minha posição embasadamente, aquilo tudo. Coisa mais detestável esse negócio de debate sobre o referendo. Odeio debates, cuspo nos debates, piso nos debates, e, se querem saber, sou a favor do desarmamento. Tirem-me minhas armas, vamos! Se não tirarem, vou sair por aí, baleando debates inocentes. Outro dia mesmo, eu, um cidadão de bem, saí na rua e vi um debate brincando no jardim, nem lhes conto a cena trágica que sucedeu. Tinha uma arma a mãos no momento, e, como vocês sabem, uma arma pode transformar um cidadão de bem num criminoso. Pois que é verdade, dito e feito, saquei minha arma e comecei a atirar no debatezinho indefeso e inocente, matando-o.

Eu ia falar outra coisa, esqueci. Ah, sim, lembrei: também odeio gente que diz que as campanhas do referendo são de baixo nível. "Mas essas campanhas são uma baixaria, hein? Muito baixo nível!" Ora e o que não é baixo nível, minha senhora? Tem gente que ainda completa: "Tanto da frente do Sim quanto da do Não!" O que querem essas pessoas, meu Jesus? Querem que apareçam pessoas dizendo "ah, gente, eu acho que o certo é votar no Não, mas votar no Sim também é suuuper!"? Faça-me o favor, você, você mesmo, pessoa que reclama do baixo nível das campanhas do referendo. E vote no Sim, porque senão pegarei meu revólver e farei com você o mesmo que fiz com aqueles debatezinhos lá do começo do texto.

11 de outubro de 2005

Ascensão e queda do Cineasta Brasileiro

Teve a idéia de retratar as humildes famílias produtoras de paçoca do sertão do Rio Grande do Norte e começou a produção de seu documentário com verbas do Ministério da Cultura. O Cineasta Brasileiro estava retratando, dizia, um importante aspecto da cultura nacional, e que revelar os hábitos do povo pobre de longe dos grandes centros urbanos do Brasil é a tarefa primordial qualquer pessoa que faça cinema no país. Seu filme, Sertão e Suor, mostrava a tocante rotina dos sertanejos que pisavam nos amendoins para moê-los e, como os amendoins do sertão são mais duros que o normal, acabavam com os pés totalmente calejados ao fim do dia de trabalho.

Sertão e Suor ficou em exibição nos cinemas do país por mais de um mês, e foi um recorde de público, uma verdadeira febre. Quando sua obra entrou em cartaz, o Cineasta Brasileiro deu uma entrevista para a Folha Ilustrada, onde declarou que "o cinema deve servir como instrumento de transformação social". Ganhou um Kikito em Gramado, o prêmio mais ridículo do cinema mundial, e também ganhou vários elogios de atores presentes no evento, que acrescentavam ainda que era natural que o filme fosse bom, pois em Gramado está sempre a fina flor do cinema brasileiro. Pouco depois, o Cineasta Brasileiro foi premiado em Cannes, este o prêmio mais banal do cinema mundial, o que encheu os brasileiros de orgulho, pois o talento da nossa gente estava sendo reconhecido. Europeus em Cannes disseram que o documentário foi "um retrato fiel da realidade brasileira, que servirá para que as pessoas despertem uma consciência crítica em relação às mazelas do Terceiro Mundo".

O documentário, por fim, foi o indicado brasileiro ao Oscar, criando grande expectativa no público. No domingo da premiação, Marília Gabriela e Rubens Ewald Filho asseveraram que, neste ano, o Brasil teria que levar a estatueta, pois era mais que merecido, e o talento do Cineasta Brasileiro já estava mais do que provado. Sertão e Suor perdeu para um filme espanhol e, no dia seguinte, em comentário no Jornal da Globo, Arnaldo Jabor afirmou com sua típica acidez: "Os velhinhos da Academia, recostados em suas confortáveis poltronas, não querem saber dos problemas do Terceiro Mundo. Desprezam essas absurdidades presentes em nossos filmes. O Cineasta Brasileiro, com seu talento inegável, levou às telas dos americanos a realidade que eles - e o Bush - tanto desprezam. Ao invés de serem imparciais e premiarem com sensatez, os velhinhos da Academia preferem se curvar ao lobby da Miramax. A nós, pobres terceiro-mundistas, só resta lamentar."

O Cineasta Brasileiro, então, começou a produzir outro filme, um sobre a venda de cocos em balsas nos rios do interior do Amazonas. Algumas vezes, Sertão e Suor concorre com pornochanchadas da Vera Fischer (tais como Gata em Teto de Zinco Quente e Navalha na Carne) no Intercine e perde, porém o filme ainda pode ser assistido de madrugada duas vezes ao ano no Canal Brasil.

6 de outubro de 2005

Contra o dinheiro

Como está passando o Programa do Jô, fui estimulado a prestar atenção em algo que não fosse a TV e, aqui no computador, enquanto ouço o novo CD do Ill Niño (excelente, principalmente a faixa 5, De la Vida, vão baixar lá no Pirate Bay), acabo de descobrir a aterradora realidade: tem gente contra o dinheiro. Como isso é possível, não sei, mas existe sim gente contra o dinheiro, querem até aboli-lo, como se o pobre do dinheiro tivesse feito alguma coisa! Declaro que o dinheiro é inocente!

Tudo bem você não gostar dos desenhinhos do dinheiro (tem um peixe na nota de 100, não estou brincando), mas as pessoas não são contra isso, são contra o que o dinheiro representa. É como se saíssem por aí gritando "eu sou contra um meio de troca indireta, gente!!!", e se descabelando, não querendo utilizar um meio de troca indireta, porque só os meios de troca direta são legais. No fundo é isso que os detratores do dinheiro pregam: a não utilização de um meio de troca indireta e o retorno ao escambo. Nada contra pessoas que querem trocar sacas de arroz por um litro de leite, até admiro alguém que queira fazer isso (imagine-se saindo por aí com 50 quilos de arroz nas costas para trocar por outros bens, que coisa fantástica), mas tem gente que é preguiçosa, que não gosta de fazer exercícios, que só quer ficar em casa ouvindo Ill Niño. Peço condescendência.

Update: O De Repente está de volta!

4 de outubro de 2005

Legítima defesa

Hesitei em escrever esse post porque, ah, está todo mundo postando sobre o tema, não queria parecer vulgar. Mas vamos lá. Há algum tempo, eu estava discutindo no orkut com uma garota sobre o desarmamento, defendendo ardorosamente minha posição a favor das armas, contra a vida e contra a paz. Argumentei dizendo que proibir as armas era um ataque ao direito fundamental da legítima defesa. Ela me respondeu que não, que desarmar não é atacar a legítima defesa, que o desarmamento apenas nos veda um dos meios de exercê-la. Ou seja, se quiser exercer a legítima defesa, pegue um extintor de incêndio e arremesse na cabeça do agressor, porque arma de fogo não vale. Quando ela me disse isso, rapidamente me ocorreu uma situação como a que descrevo a seguir.

Um bandido armado invade a casa de um cidadão à noite e este acorda ouvindo um barulho. O cidadão levanta da cama e pega o revólver para espantar o invasor. Com cuidado, ele chega por trás do bandido e aponta a arma na cabeça dele:

- Parado aí!
- Opa, um minuto aí, legítima defesa, só sem armas!
- Nossa, é verdade, como fui estúpido. - diz o cidadão, enquanto joga seu revólver no chão.
- Foi mesmo. Onde já se viu? Usar armas para exercer a legítima defesa? A que ponto chegamos, meu Deus!
- Olha, espera um minuto aí, não se mexa, não saia do lugar, vou lá na garagem pegar meu facão de churrasco para exercer meu direito, ok?
- Claro, vá em frente. Ainda bem que estou invadindo a casa de uma pessoa racional...

30 de setembro de 2005

Sobre Luana Piovani

Sobre o belíssimo comentário de Luana Piovani sobre o desarmamento, tenho a dizer que concordo plenamente, acrescentando que, além das armas, o voto também não deveria existir, pois ele só alimenta a gana por poder político, e o dinheiro também não deveria existir, pois este só alimenta a doença pelo poder econômico. Deixe-me estender o raciocínio da invenção da pólvora para a comida, que, ao ser inventada, só potencializou a doença da gula. As pessoas se tornaram muito mais gulosas com a invenção da comida, inegavelmente, então a comida não deveria ter sido criada, digo eu. Como a televisão só alimentou a doença por maratonas de Smallville, criando exércitos de zumbis, ela não deveria existir. E, e, vejamos, como o Mal é inerente ao Universo, a criação do Universo só permitiu a manifestação do Mal, logo, o Universo não deveria existir.

26 de setembro de 2005

Depoimento

"As armas de fogo não deveriam existir, elas só servem para alimentar a doença pelo poder. Não se deveria ter descoberto a pólvora."
Luana Piovani, atriz

12 de setembro de 2005

Lição numero um para blogueiros: ser processado é ruim

Blogueiros parecem ter se esquecido desta elementar noção do mundo moderno: ser processado é ruim. De verdade, ser processado não é nada legal, não dá status, ao contrário do que os blogueiros acreditam, e você perde um dinheirão com essas coisas. Ops, olha só para esta porcaria, acabo de derramar Coca-Cola no meu mouse pad, maldição. Vou puxar o mouse para cima do refrigerante que caiu, para esconder. Um momento, por favor. Pronto, agora sim. Droga, não sei se posso mexer o mouse sem espalhar refrigerante, creio que terei que conviver para sempre com essa dúvida. Refrigerantes são ruins por isso, eles caem, emporcalham tudo e sempre dá para ver as manchas. Eu devia ter comprado Sprite, penso que esconderia melhor. Pelo menos quando as migalhas deste sanduíche caem no teclado, elas rapidamente se escondem entre as teclas, mas Coca-Cola nãããão, ela se acha muito importante, tem que dar trabalho, é um inferno.

10 de setembro de 2005

Ah, não faço mais templates

Qual o problema do orkut? Eu lhes explico e dou a solução, porque é assim que um profissional de opinião tem que proceder: apontar os problemas e mostrar saídas viáveis. Do contrário, não passa de uma crítica inócua e sem sentido. Bolas!, não adianta simplesmente falar para um doente "você está resfriado", nada mais fútil, é necessário dizer "você está resfriado, logo, deve descansar e tomar muito líquido".

Pois bem, o problema do orkut não são os brasileiros, e até é legal o jeito como os brasileiros se orgulham de serem maioria lá. Brasileiros são assim mesmo, e é bom que sejam, têm um estilo de vida bonito, vêem alegria em todas as pequenas coisas: estar em maioria no orkut, construir castelinhos de areia na praia, ganhar a Copa Sul-Americana. Não, não, o problema do orkut é outro. O problema do orkut são as discussões, não exatamente o que se discute, mas a forma como se discute. Uma prática que tem se difundido pelo orkut nas discussões é a de colocar "Fulano disse:" antes da citação de alguém e "Eu:" após a citação da própria pessoa, tal como represento abaixo, com aquela vergonhinha de franzir o cenho:

Joãozinho Pé-de-Mesa disse: "As focas são peixes."
Eu: As focas não são peixes nem mamíferos, são seres mágicos, que nascem com uma bola no focinho para brincar.
Para quê, meu Deus, para quê? E eu juro que isso acontece, gente, juro mesmo. Gente colocando "Fulano disse:" antes do argumento de outrem e depois, pior ainda, colocando "Eu:" para indicar que começou a enunciar a própria opinião. É como se você fosse conversar com alguém e esse alguém, antes de responder, dissesse "Você disse: Oi, tudo bem? Eu: Tudo bem". É claro que em tópicos do orkut muitas pessoas opinam, às vezes é necessário esse tipo de coisa, colar o que o outro disse e pararã, mas, diabos, por que "Fulano disse:" e "Eu:"? As pessoas que usam esse artifício são o mesmo tipo de gente que mija na rua, atrás da muretinha, a ligação entre as duas coisas, para mim, é clara como a água. Solução para o problema: as pessoas pararem de usar "Fulano disse:" e "Eu:".

Note que foi uma crítica construtiva, sadia, indicando saídas, provando que não estou aqui apenas para me alimentar de polêmicas fáceis, manifestando minha vontade de ajudar na construção de uma sociedade mais justa. Os próximos temas de discussões no orkut a serem abordados serão: 1) gente que deixa "abraços cordiais" no fim dos posts; 2) gente que coloca "saudações 'alguma-coisa'" no fim dos posts ("saudações libertárias", "saudações comunistas", "saudações masoquistas" etc).

9 de setembro de 2005

Faço templates a 40 reais, uma pechincha, promoção e pra mocinha, aproveite, o estoque é limitado

Comemoro hoje o aniversário do meu diarinho, o Manipulação, acrescentando que não sei se hoje é o aniversário do blog, porque nunca comemorei o aniversário dele e nem sei quando postei pela primeira vez. Portanto, hoje é só uma data figurativa, não sei a idade do blog na verdade. Não é nada improvável, inclusive, que ele, o blog, já seja um homem feito, pronto para casar - talvez também, não dá para precisar, o blog também seja uma moça já formada, com os peitinhos grandes e redondinhos, que enchem uma mão. (Ele nunca me confidencia essas coisas de sexualidade, o(a) Manipulação é muito reservado(a), mas o(a) amo mesmo assim.)

Para presentear o blog, além de ter mudado a cor do blog daquele divertido verde-luzinha-de-computador para este elegante azul-turquesa, como muito bem definiu um leitor nos comentários de algum post anterior, preparei uma festinha para ele, com bexigas e saborosos beijinhos (vocês sabem, aquelas bolinhas de leite, amarelinhas, gostosas. Na festinha do meu blog, elas não têm aqueles cravos horríveis em cima, coitados dos beijinhos, não fizeram nada para ter uma coisa daquelas enterrada neles), e todos os amiguinhos.

Um presente que não fiz para meu blog foi um brasão, que é um plano antigo. Quero desde tempos remotos fazer um brasão para este blog, para que o reconheçam na rua somente pelas cores que traja, mas desisti porque ia dar muito trabalho, Deus está de prova. Sou um admirador da parassematografia, a arte de confeccionar brasões, nada mais natural, então, que querer um emblema para o Manipulação. Tenho até o emblema na minha mente, ele seria assim: azul-turquesa e verde-luzinha-de-computador seriam suas cores principais, óbvio, são cores familiares; li no site da monarquia brasileira que o losango presente na bandeira brasileira é uma homenagem heráldica às mulheres - pois bem, no brasão de meu blog, mesmo que fosse errado misturar bandeira com brasão e tal, não sei e não me importo, também queria homenagear as mulheres, então no emblema deveria haver um losango, digamos, um cinto de castidade em volta e uma vassoura no interior dele, para demonstrar a estima que nutro por elas neste território; e também tinha que ter golfinhos pulando em volta do símbolo, porque golfinhos são maneiros. No resto do brasão eu não pensei, mas já deu para ter uma idéia, eu acho. Poderia, quem sabe, colocar um livro representando os dez mandamentos em algum lugar, só que, veja, já está dando trabalho, deixa para lá. Não vou fazer nada, e nessas festinhas só tem muquirana, lamento, blog.

7 de setembro de 2005

Faço templates por 50 reais

Pensei em acabar com esse blog e me tornar tão baixo quanto, bem, quanto pessoas que acabam blogs por aí o tempo todo, mas pensei que não ia ter tantos comentários dizendo "oh, frost, por favor, volte, precisamos de você", então desisti. O único motivo razoável para se acabar com um blog é fazer os outros pedirem para você voltar, assim como o único motivo razoável para ter um blog e não ganhar dinheiro é receber comentários elogiosos. Pensei em fazer várias coisas idiotas nesta semana, não apenas acabar com o blog. Pensei, por exemplo, em praticar Tai Chi Chuan, porque vi na TV gente fazendo isso - eram pessoas comemorando os 130 anos do Mercado de São José, um mercado popular de Recife. Praticar Tai Chi Chuan é um jeito muito pitoresco de comemorar alguma coisa, mas, sabe-se lá, provavelmente o Tai Chi Chuan fosse o que melhor representasse a alegria do povo por tal data marcante.

(Claro que abandonei a idéia de praticar Tai Chi Chuan, claro, claro, quer dizer, sou muito influenciável pela TV, mas logo me volta o senso do ridículo. Deixe-me contar-lhes uma coisa, muito confidencial, sei que provavelmente vocês são leitores de bom gosto, que não gostam de dar tapas nas outras pessoas, principalmente na nuca, mas hoje pensei nisso, me parece divertidíssimo; já pensaram em dar um "Pedala, Robinho!" em alguém praticando Tai Chi Chuan? Assim, dar um bofetão na nuca do praticante, para que ele caia em slowmotion, com aquela baba voando lentamente de sua boca, gritando numa voz grave "nããããããooooooo". Poderiam considerar, pensar nisso me diverte, vocês nem sabem.)

Acho que é a segunda vez que falo de Tai Chi Chuan neste blog, devo ser a pessoa que mais despendeu tempo falando disso na história mundial, tirando os mestres chineses, que, dizem por aí, escreveram livros sobre como se movimentar lentamente. Porém, acho que eles não contam, porque o tempo no mundo dos praticantes de Tai Chi Chuan passa umas cinqüenta vezes mais lentamente. Pois, devo ter garantido um espacinho no próximo Guiness.

31 de agosto de 2005

Com embasamento

Experimentar coisas somente para falar mal depois é uma das coisas mais degradantes do mundo, como é degradante, nem me fale, e é por isso que todo mundo só vive falando isso, "oh, meu Deus, não fale mal sem conhecer, tem que falar mal com embasamento, atitudes como a sua contribuem para a má qualidade do debate na internet!!!". A internet está infestada de gente que quer debates de alta qualidade, não sei para quê, visto que, ora, o debate é de baixa qualidade porque as pessoas são de baixa qualidade, os inteligentes não se preocupam com debates de alta qualidade, nem em falar mal com embasamento.

"Não fale mal de colocar o dedo na tomada, você nunca nem colocou, para saber, sua atitude inconseqüente contribui para o enfraquecimento do já debilitado debate da internet hodierno", eu gostaria de ver alguém dizer, à mesa de jantar, após eu dizer que jamais colocaria o dedo na tomada para não acontecer essas coisas chatas, levar um choque, talvez. Essa é basicamente a atitude de quem lê Paulo Coelho para falar mal com embasamento: colocar a mão na tomada para saber como é e achar muito bonito. Essa atitude deve advir de revolta das pessoas, sabe-se lá, fizeram algo muito estúpido e agora saem pelo mundo incentivando os outros a fazerem coisas igualmente estúpidas. "Eu li Código da Vinci, leia você também", diz o arauto do bom debate na internet, "li e agora falo com propriedade, não saio destilando críticas sem conteúdo". É como você martelar o próprio dedo e sair pelo mundo propalando as maravilhas de martelar o próprio dedo, para que você possa falar sem medo sobre como é martelar o próprio dedo.

Mas essas pessoas não me pegam, sou muito esperto, tenho os reflexos rápidos como os de uma raposa do deserto azul, animal muito ágil que acabo de inventar, ninguém vai me fazer ler Paulo Coelho, talvez eu nem leia Código da Vinci, que comecei outro dia, mas Paulo Coelho nunca. E mesmo que eu leia Código da Vinci, não falarei para que vocês leiam, pois não tenho esses impulsos sádicos, nem discuto na internet, a única coisa que faço online são raps, e aproveitando o ensejo, gostaria de chamá-los para lá, para a Comunidade Rap, para que você se junte a mim, a nós, na arte de fazer raps. E essa propaganda é a única razão de este post existir.

11 de agosto de 2005

Expressões constrangedoras

Das mais para as menos constrangedoras:

- "dar muito beijo na boca";
- "muita gente bonita";
- "ver por dois ângulos principais";
- "básico";
- "é relativo".

É importante frisar que as primeiras duas expressões remetem imediatamente a Hebe Camargo. Ou seja, se você as usa, já usou, pensa ou pensou nelas, ceteris paribus, você é Hebe Camargo. Questão puramente lógica, ou erro em minha reflexão?

Provo-a com um exemplo simples. Basta imaginar Hebe Camargo conversando com a ex-Casa dos Artistas Mari Alexandre:

Mari Alexandre: Sabe, Hebe, é que ainda estou estudando as propostas das revistas para posar nua. Ainda não surgiu uma proposta que me balançasse. (E dá uma balançadinha na cabeça enquanto fala "balançasse".)
Hebe: Tem que fazer isso mesmo. E você, jovem e bonita, tem mais é que aproveitar a vida, sair por aí e dar muito beijo na boca!

A terceira e a última expressões não precisam nem de explicações, porque, ora, que coisa horrível é alguém chegar e dizer na sua cara para você olhar de dois ângulos um assunto, e que o assunto é todo relativo, e que você não pode dar "essa explicação tão simplista", e essas coisas. Enfim, não vou me estender neste ponto, parece-me óbvio.

Ah, e "básico". "Para sair para a night, você põe aquele jeans básico." Note que "básico" é expressão predominantemente usada por VJs da MTV. Isto significa que, se você a usa, provavelmente você é o Léo Madeira.

Update:

Outras expressões repulsivas:

- "balada";
- "monopólio da ética".

1 de agosto de 2005

Perguntão

Apreciaria por demais se alguém me explicasse por que a Nova York dos filmes está constantemente em incêndio, como neste filme que vejo agora, no Corujão, às quatro da manhã, em que ocorre uma briga no metrô da cidade com muita fumaça ao fundo. O que é aquilo? Fumaça mesmo? Vultos? Gás lacrimogêneo? Peidos? Vejam, neste momento a cena acaba de mudar para dentro da casa da pessoa e continua aquela fumaça passando. A noite de Nova York tem tanta fumaça assim? Estou ficando louco com esta dúvida.

Mas mudo de assunto. Deixe-me contar que, ontem, um meu tio e sua mulher, que moram no interior de Pernambuco e, portanto, não podem nos visitar freqüentemente, vieram à minha casa e ficaram aqui durante umas três ou quatro horas, conversando frivolidades com minha mãe, enfim, matando as saudades, vez que eles vêm poucas vezes para a parte do estado que mais se aproxima da civilização.

Minha mãe lhes entreteu mostrando os encantos do mundo moderno, deixando-os maravilhados com coisas como fósforos ("Santo Deus, é só riscar nessa parte marrom da caixa que acende?") e velcro ("Olha como cola um lado no outro!"), e, ademais, ela se divertiu conversando com parentes que quase nunca vê. O ponto é que, ao irem os dois embora, ela veio me reclamar: "Olha só, perdi minha novela!"

E, bem, isso sempre acontece. Certo dia, não brinco, veio nossa velha vizinha, Dona Saudade, aqui em casa para conversar às nove e meia da manhã. Passaram aproximadamente quinze minutos conversando, até que Dona Saudade ficou com sono, ou alguma coisa assim, nunca se sabe, e voltou para casa. Isso fez com que minha mãe irresignadamente corresse até mim para queixar-se: "Olha só, perdi minha novela!"

Mamãe sempre perde ou perderá uma novela, por mais estranha que seja a hora em que acontecem as visitas, o que nos leva a perguntas lógicas, pois hoje estou perguntão e vou explorar os comentaristas deste blog: 1) Quantas novelas passam na TV aberta brasileira e elas passam em horários esparsos como as visitas à minha casa? 2) De manhã passa novela ou a TV Globinho é uma novela? 3) Qual a duração média de cada capítulo das novelas nacionais?

Muito grato pelas respostas, embora a questão da fumaça seja muito mais aflitiva, e talvez responda por que Nova York fede tanto. (Nada contra, mesmo, mesmo, mas é que fede, vou dizer o quê? E tem aqueles ratos asquerosos.)

28 de julho de 2005

Japoneses

Vi há algum tempo no Globo Repórter que as crianças japonesas do ensino fundamental usam capacetes quando na escola. É por isso que o Brasil continuará perpetuamente sendo um país de terceiro mundo, porque sua bandeira é muito feia, com aquele bordão horroroso no meio, e também porque os brasileiros ignoram que suas crianças podem, de uma hora para outra, começar a bater a cabeça na parede sem motivo aparente.

Os japoneses sabem que não dá para confiar no discernimento das crianças e colocam capacetes nelas, e por isso são os segundos no mundo - também por causa da bandeira deles, que só tem uma bola no meio e é muito divertida de desenhar, ao contrário da nossa, muito complexa; nunca acertarei a posição das estrelinhas, mesmo tentando desenhá-las em todos os dias de minha vida.

Como quero ser lembrado como alguém bem pouco patriotinha, reproduzirei aqui uma citação de Nelson Rodrigues, para mostrar que sou muito conservador e que cuspo no Brasil e nos brasileiros: "O brasileiro é o povo mais idiota do mundo pois, ao contrário do japonês, não faz com que suas crianças usem capacetes para se protegerem de impulsos doentios de bater a cabeça na parede sem motivo aparente."

Seu Nelson falou, tá falado!

27 de julho de 2005

Menina de olho

A emocionante história de uma boxeadora que fica tetraplégica, sem poder nem mesmo falar. Seu treinador lhe dá a opção do suicídio assistido: ela deveria piscar se quisesse morrer ou ficar com os olhos abertos se quisesse continuar vivendo. O filme termina com o falecimento da ex-boxeadora graças a uma infecção generalizada, provavelmente ocorrida graças a uma sujeira que caiu em seu olho.

Breve nos cinemas.

19 de julho de 2005

Conto do banheiro

O banheiro do shopping estava vazio, até que dois homens, ambos altos e fortes, ora se não eram, entraram, trancaram-se em cubículos vizinhos e puseram-se a urinar. Passaram-se alguns segundos de silêncio, somente com o barulho característico das urinas tocando na água da privada, você sabe, e um dos homens acabou por se irritar:

- Que barulho enjoado! Mija na louça! - disse.
- Tá falando comigo? - o outro rapaz indagou.
- Claro!
- E o que você quer?
- Mija na louça!
- Hã?!
- Mija na louça da privada! Tá fazendo barulho!

Os dois se calam por alguns minutos, pois, como já deve ser de conhecimento dos leitores, a mijada de ambos personagens desta anedota, para fins fabulísticos, demora várias horas. Ambos continuam a mijar, o rapaz se irrita novamente e diz, com um tom mais agressivo:

- Mira o mijo na louça do vaso!
- Ah, é muito difícil! Não vou fazer isso, não!
- Mas e esse barulho?
- Vai ter que agüentar!
- Ah, não vou, não! Ouvi dizer que, para fins fabulísticos, nosso mijo demora várias horas! Vou enlouquecer com esse barulho! Você vai ter que mijar na louça!

Então, o rapaz, o que estava exasperado por causa do ruído do mijo alheio ao bater na água, mira sua urina para o chão, para que ela escorra até os pés do vizinho:

- Epa, o que é isso? - o rapaz do cubículo ao lado pergunta, enquanto tenta se manter urinando na privada e sacode os pés, esforçando-se para se livrar do líquido.
- E aí, vai mijar na louça?
- Pára de mijar no meu pé!
- Nunca!
- Vou mijar na sua cabeça! - disse, enquanto subia no vaso e mirava sua urina para que ela passasse por cima da divisória dos cubículos e acertasse o vizinho.
- Porra! - o outro exclamou quando sentiu sua careca molhada, e saiu correndo do cubículo, colocando o pinto para dentro da calça.

Ao sair de lá, ele foi lavar as mãos. Viu o outro se aproximar um tempo depois, já que, para fins de fábula, os personagens desta história também demoram várias horas lavando as mãos. Chegou e os dois ficaram enxaguando as mãos em pias próximas durante alguns minutos. Passou-se um tempo e o que havia começado a lavar mão primeiro virou para o outro:

- Mira a água no ralo. Tá fazendo barulho.

10 de junho de 2005

Bingo

Conversei com uns meus amigos sobre a Petrobras e posicionei-me xiitamente a favor da privatização da empresa, exaltando minha posição de elite parasitária que domina o país há quinhentos anos. "Vende tudo aí", eu falava sem escutar o que me diziam. Até que, num átimo, os ouvi dizer que a privatização da Eletrobrás foi um fracasso, porque ainda aumenta-se o preço da energia, ou algo igualmente idiota, e porque vendemo-la por mixaria. Olha, asseguro-lhes, nem vendemos por mixaria, e, se vendemos, é porque valia aquela ninhariazinha mesmo. Essa gente que fica superestimando nossa massa falida, não sei, não, viu?, gente mais mesquinha.

Eu argumentei sofismaticamente dizendo que a empresa foi vendida em leilão, o que faria, portanto, o preço pago por ela ser justinho, bonitinho, já que ninguém estava disposto a pagar mais nada por aquela porcaria. Porém, foi aí que um de meus amigos disse, com toda aquela pompa dos sábios: "Ah, mas a gente sabe que não foi leilão mesmo! Você sabe que tem muita coisa por trás." Não, eu não sabia que a coisa estava por trás, não, e, inclusive, sempre pensei que a Eletrobrás tivesse sido vendida por leilão mesmo. Descobri estar ridiculamente errado.

Mas se a Eletrobrás não foi vendida por leilão, foi vendida por quê? Por rifa? Cada bilhete custando um bilhão de dólares? Não pode ter sido por torneio de habilidades. Deve ter sido por bingo. Certamente foi por bingo, é o método mais justo. Posso facilmente imaginar um bingo com dezenas de executivos multinacionais senis cruzando os dedos e marcando as cartelas com feijõezinhos. Tanto imagino isso que abaixo lhes narro como penso que foi o bingo da Eletrobrás:

Bingo da Privatização da Eletrobrás

O representante do governo pega um globo do Bingo do Gugu com 99 pedras e, antes de iniciar o Bingo da Privatização, anuncia que "quem completar uma coluna ou uma linha ganha um pequeno montante de ações" e que "quem completar a cartela fica com a mesa diretora". Os velhos executivos estavam nervosos, apreensivos, esperavam ansiosamente pelo começo do jogo, usando pijamas (a maioria de cor vinho) e chinelas.

Começa a sessão. No início parecia que ia haver um equilíbrio até o fim e que o bingo seria decidido somente nas duas últimas bolas, mas logo viu-se que somente dois concorrentes estavam com sorte naquela tarde. Depois de cada número que o sorteador entoava, ouvia-se dos executivos coisas como "Uhhh!" ou "Gira esse globo direito! Tá viciado!". Vez por outra alguém completava uma linha ou uma coluna:

- Dois patinhos na lagoa, vinte e dois!
- Coluna! Completei a G!

Eventualmente o grito de "Coluna!" era sucedido por um "Puta que pariu!" inconformado do fundo da sala, mas normalmente ninguém se exasperava e o bingo continuava a transcorrer normalmente.

Nas últimas bolas, os dois últimos executivos com chances reais suavam frio, esperando cada número como se daquilo dependesse a aquisição de uma grande empresa de gerência de sistemas elétricos de um país sul-americano:

- Quarenta e sete, quatro, sete! - bradou o sorteador.
- Vou bater! - disse um executivo.
- Eu também! - falou outro, que, além de pijama, usava um gorro de dormir muito garrido.

O sorteador, então, enunciou o que seria a última bola:

- A idade de Cristo! Trinta e três!
- Bati! - se levanta o executivo de gorro.

E levantou-se furiosamente o outro executivo, o que estava pau a pau com o de gorro, apontando o indicador na direção do vencedor e gritando "É impossível! O controle acionário é meu! Meu!". Então saiu correndo atrás do concorrente, no intuito de roubar-lhe a cartela premiada, fazendo breves pausas na na corrida para descansar um pouco (porque ele já era um senhor de idade e não podia forçar a coluna), enquanto o ganhador fugiu rapidamente para conferir sua vitória.

4 de junho de 2005

Posts

Saí da Revista Paradoxo e, por isso, decidi postar meus textos de lá aqui no meu blog, para não perdê-los, coitados, eles têm valor sentimental. Estão todos aí embaixo, para se quiserem ler, reler, se emocionar.

Testemunhas-de-Jeová

Desisti de ir a uma palestra de Abram Zylbersztajn sobre humor judaico. Zylbersztajn já lançou dois livros de compilações de piadas de judeu, os volumes 1 e 2 de "As Melhores Piadas do Humor Judaico". É um especialista no tema. Nunca fui a uma palestra sobre piadas de coisa alguma e, pelo visto, passarei mais algum tempo sem ir. Não sei o que Abram disse na palestra, mas espero que ele tenha dedicado um tempo a explicar como se pronuncia de seu sobrenome, que é algo que me intriga mais do que as piadas de judeu. Dar palestra sobre piada de judeu é moleza, não tem segredo algum. Para fazer uma piada dessas, basta assumir que todos os judeus são avarentos, que todos os judeus têm o nariz grande e recurvado, que todos os judeus têm sotaque de judeu e que todos os judeus falam na terceira pessoa. Muito mais interessante que uma palestra sobre piadas de judeu seria uma palestra sobre piadas de anão - muito embora os anões sejam engraçados por si só, não precisando de piada nenhuma. Mesmo assim, se ficarem sabendo de alguma palestra sobre piadas de anão, não hesitem em me chamar.

* * *

Recentemente foi inaugurado um monumento em Berlim que homenageia os judeus mortos pelo nazismo. Desenhado pelo arquiteto americano Peter Eisenman, o monumento é constituído de 2.711 blocos de concreto de diferentes tamanhos e sua idéia é transmitir uma sensação de desconforto e solidão que lembre o sofrimento dos judeus vitimados pelo Terceiro Reich. No entanto, o único sofrimento de que lembro quando olho o monumento é o meu, porque a construção é absurdamente feia e agride os meus olhos. Espero que, visto de dentro, ele lembre mais os pobres judeus.

Uma crítica feita ao monumento foi ao fato de ele não homenagear todas as vítimas do nazismo, mas apenas os judeus, excluindo os ciganos e as testemunhas-de-Jeová, por exemplo. Não conheço absolutamente nada dos ciganos, mas, se as testemunhas-de-Jeová realmente se incomodaram, as autoridades alemãs podem ficar sossegadas, pois elas (as testemunhas-de-Jeová) têm um longo histórico de mudanças de idéia. Se agora estão revoltadas com a omissão alemã do seu sofrimento, em breve, chuto, elas mudarão de idéia e ficarão até felizes com o fato.

As testemunhas-de-Jeová achavam que o Armagedom viria antes que a geração de 1914 desaparecesse. A geração de 1914, entretanto, vem morrendo e o Armagedom ainda não veio. Por isso, pensaram até em mudar o ano da geração do juízo final de 1914 para 1957 para dar mais tempo para o Armagedom chegar, porque ele é meio lentinho e não aparece quando deve. Tentaram justificar a mudança do ano com o lançamento do Sputinik pelos soviéticos. Esperemos, pois, que as testemunhas-de-Jeová não considerem mais pecado a transfusão de sangue após o homem pisar em Marte.

Também em 1914, acreditavam as testemunhas-de-Jeová, havia começado o julgamento das nações, em que Jesus estava separando os cabritos das ovelhas. Um tempo depois, decidiram que o julgamento só começará após a vinda de Cristo. Sobre o serviço militar, as testemunhas-de-Jeová achavam que não era bíblico. Mas, em 1978, o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia - instituição das testemunhas-de-Jeová - decidiu votar o serviço militar alternativo (atividades administrativas em vez de essencialmente militares), mostrando que havia algumas dúvidas e talvez o serviço militar fosse um pouquinho bíblico. Hoje em dia, a Torre de Vigia admite que o serviço militar alternativo não é pecado.

Os judeus precisam de Abram Zylbersztajn para fazer piada de si mesmos. As testemunhas-de-Jeová, pelo menos, já fazem de sua crença uma piada. (A propósito, avisem-me se conhecerem uma testemunha-de-Jeová anã. Deve ser a coisa mais hilária do planeta.)

Malvinas

A declaração final da Cúpula da América do Sul e dos Países Árabes (reunião entre países inexpressivos) traz um parágrafo defendendo a soberania da Argentina sobre as Ilhas Malvinas, de domínio do Reino Unido. Os latino-americanos criticam a inclusão das ilhas como território ultramarino britânico no Tratado Constitucional da União Européia, buscando restabelecer negociações entre a Grã-Bretanha e a Argentina, para, desta forma, encontrar "uma solução justa, pacífica e duradoura" para a querela.

As Malvinas - Falklands, para os britânicos - são dominadas pelo Reino Unido desde 1833. Para a Argentina, as ilhas são palco de uma "disputa de soberania", mas o ponto é que a disputa pela soberania foi em 1982, quando os argentinos tentaram reimpor àquele lugar sua administração e levaram uma surra dos britânicos - em dez semanas. Hoje não há mais disputa pela soberania, todo mundo está feliz, deixem as ilhazinhas lá com o Reino Unido. A tal solução pacífica e duradoura já foi encontrada há muito tempo, e, arrisco-me a dizer, é muito justa: haverá paz duradoura, exceto se a Argentina quiser as Malvinas de volta. Os kelpers, habitantes das ilhas, pensam como eu e preferem a cidadania britânica. A propósito, dói-me o coração ver como pessoas tão lúcidas como os kelpers são ignoradas no debate pela posse das Malvinas. Qualquer um preferiria ser inglês a ser argentino, e os kelpers não são exceção.

***

Na minha opinião, todas as ilhas do mundo deveriam ser possessão britânica. É assim que o mundo foi concebido e não cabe a nós, meros produtos da Criação, mudarmos essa situação. Um grande trabalho que venho desenvolvendo é o de transformar o terreno onde meu prédio se situa numa ilha. A primeira coisa que fiz foi cavar um grande buraco em volta dele, e, agora, todos os dias, passo horas e mais horas enchendo o buraco com água da mangueira. Em poucos meses, meu prédio se transformará numa ilha no meio de Recife - pretendo até encher o buraco com piranhas e crocodilos - e humildemente enviarei uma cartinha à Rainha Elizabeth, pedindo a formalização de seu domínio sobre meu prédio. Se ela estranhamente se recusar a assumir a posse da minha ilha (Ilha Erickland, oficialmente), pedirei proteção à Rainha Beatrix da Holanda, que certamente quererá reafirmar o domínio histórico de seu país sobre Pernambuco. Não há dúvidas sobre isso.

Arrumo as malas

Pretendo deixar o país o mais breve possível. Temo ver outro jornalista constrangedoramente falando sobre Severino Cavalcanti enquanto faz um paralelo com Morte e Vida Severina. Comparar o Severino de João Cabral com o Presidente da Câmara é um crime, que, por conta de nossa Constituição arcaica, não tem pena prevista em lei. Felizmente, José Carlos Aleluia não foi eleito, não dando margem para análises políticas intituladas ?E agora, José??, que ficariam sem as punições cabíveis.

Enquanto coloco estes chocolates com recheio de baunilha na bagagem, caros, eu lhes digo que esses não são Severinos iguais em tudo na vida. Cavalcanti não é filho de Maria nem do finado Zacarias, portanto, jornalistas, parem de escrever tais coisas degradantes. Alguém tem que pôr um ponto final nisso tudo. Proponho a Severino Cavalcanti a paralisação da votação de todas as Medidas Provisórias enquanto o Presidente Lula não baixar um decreto proibindo a citação de João Cabral de Melo Neto em colunas sobre o cenário político nacional.

Morando em Recife, posso captar o sentimento da população quanto a Severino Cavalcanti. Em geral, os pernambucanos ficaram muito magoados com sua eleição, pois, segundo o consenso, ele não representa o povo, não representa os reais Severinos, pobres, sofridos, só com a cova que lhes cabe dentro do latifúndio. Triste. Somos assim, não nos importamos com os reais problemas da nação, nunca atentamos para o que de fato deve ser observado. Em vez de nos indignarmos com a eleição de Severino Cavalcanti, deveríamos fazer um levante contra a utilização de poemas em análises políticas. Em que mundo você quer que seus filhos vivam? Num mundo onde todo mundo sai falando sobre Severinos que morrem de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia? Eu não quero esse mundo para as próximas gerações. E isso não é muito alarde por pouco. O povo pernambucano só se conscientizará da importância de zelar pela integridade de nossos poemas quando um recifense for eleito Presidente do Senado e alguém citar Vou-me embora para Pasárgada.

Outra vantagem de viver em Recife é que há muitas embaixadas por aqui. Penso em ir até a embaixada de Rondônia e pedir asilo intelectual. Será maravilhoso, porque um lugar inóspito como Rondônia não deve possuir jornais ou qualquer tipo de veículo de comunicação. E, mesmo que possua, imagino que o Rei daquele país filtre toda a informação que chega aos rondonienses. Portanto, estarei a salvo de comparações ridículas entre um personagem ficcional e um Presidente de Câmara. Vou-me embora para Rondônia. Em Rondônia não tem nada, é outra civilização.

Olhar assexuado

Quando me deixaram escrever na Revista Paradoxo, achei de bom tom lê-la, já que nunca tinha feito isso. Na capa havia uma entrevista com Ferréz, mas não achei que seria um bom começo para mim na revista. Primeiro por causa dos óculos horríveis que ele usa. Eu, instintivamente, ao ver a foto de Ferréz, fecharia a janela e não leria nada. Também pelo fato de Ferréz ser marginal demais para mim. Creio que não estou preparado para tanta marginalidade. Achei melhor ler um artigo sobre o velório do Papa João Paulo II, mas parei quando o articulista usou a expressão "modelo consumista ocidentalizado". Poxa, eu gosto tanto do modelo consumista ocidentalizado, não quero que fiquem falando pelas costas do pobrezinho. E, inclusive, não tenho preconceito contra o modelo consumista orientalizado, se é que ele existe. Gostaria que todos os modelos consumistas vivessem juntinhos, em harmonia.

Na seção de colunas da revista, chamou minha atenção a descrição da coluna da Sarah Bergamasco: "Minha missão é revelar um olhar novo e feminino sobre as questões mais inusitadas." Gostaria de dizer às mulheres para pararem de querer lançar olhares femininos sobre tudo. Façam como eu, lancem olhares assexuados sobre algum assunto clichê, às vezes. Transformem-se mentalmente numa alface e falem, digamos, sobre economia. Noto que as alfaces não fazem ação afirmativa de gênero, um exemplo muito digno que deveria ser seguido pelas mulheres.

Esclareço que não tenho nada contra os olhares femininos, acho-os muito bonitos e elegantes (sou particularmente atraído por cílios bem feitos), mas pretendo evitar que as mulheres usem seu olhar assim, a esmo, para não vulgarizá-lo.

***

Não quero que pensem que escrevi essa coluna falando mal da Sarah Bergamasco somente para aparecer. É claro que foi somente para aparecer, mas eu não quero que pensem isso, quero que pensem que foi por algum motivo nobre. Pensem que foi pela valorização do sexo feminino, pela paz mundial ou algo igualmente vergonhoso. Só espero que vocês não fiquem falando coisas desagradáveis a meu respeito por aí, como que eu não tenho respeito por ninguém, ou que só escrevo esses absurdos para chamar atenção, porque ninguém gosta de ficar ouvindo obviedades.

28 de maio de 2005

O tímido

Sempre foi melhor escrevendo que falando. Certo dia, resolveu vencer sua timidez indo à noite a um bar, onde mandou um torpedo a uma bela moça, que mandou-lhe um de volta, chamando-o para sentar-se com ela. Sentou-se, tirou um bloquinho de notas do bolso e escreveu "Oi, tudo bem?".

8 de maio de 2005

Feliz Dia das Mães

Eu estava mesmo me sentindo bom demais para escrever num simples bloguinho para meus leitores antigos e fiéis, mas aí lembrei que escrevo de graça para a Revista Paradoxo. Sempre que escrevo uma coluna para lá, bate uma dor no peito, minha consciência pesa e fatalmente desmaio. Nenhum sentimento de superioridade resiste a trabalho, muito menos trabalho não-remunerado, como o meu. Em meu blog, eu trabalho de graça, mas ao menos trabalho para mim mesmo.

Outra coisa desagradabilíssima de escrever para a Revista Paradoxo é o fato de ter que fazer uma coluna por semana. Escrevi a primeira e poucos dias depois a segunda foi ao ar. Nesta quarta-feira a terceira coluna será publicada e assim continuará infinitamente, deixando-me completamente desgastado.

Contudo, não é por isso que não venho postando neste blog. A verdade é que certos fatos isolados têm-me tolhido a vontade de escrever. Anteontem, por exemplo, eu estava motivadíssimo a postar, até que bebi uma cerveja chamada Bossa Nova e fiquei bastante abatido. Foi horrível, desejo isso a todos os meus piores inimigos. Não obstante, não entendo: a maconha é proibida, a Bossa Nova é permitida, qual é o critério?

Aproveito este post cheio de assuntos desconexos para dizer que desprezo muito todos os blogueiros que fazem piadinhas utilizando o striketrough ("Eu odeio amo o Zezinho dos Sapatos Lustrosos!" "Nós saímos para encher a cara nos divertir como pessoas saudáveis e civilizadas..."). Portanto, leitor, se você utiliza striketrough para fazer piadinhas, saiba que está abaixo da cerveja Bossa Nova no meu conceito. Bando de gente obscena.

30 de abril de 2005

Coluna

Comecei a escrever uma coluna na Revista Paradoxo. Aqui está o link direto para o meu primeiro artigo, com o qual fiquei particularmente satisfeito. Visitem, amigos.

(A propósito, não passarei mais duas semanas sem postar. Voltarei à regularidade.)

16 de abril de 2005

George Clooney

Todos os homens do mundo querem invariavelmente ser o George Clooney. De uma forma ou de outra, querem ter o charme dele, se vestir como ele, e até falar pouco como ele. Até mesmo quem diz que quer ser o Richard Gere quer ser o George Clooney. Não dá para querer ser o Richard Gere por uma razão simples: ele faz diferentes papéis de vez em quando - mas não sempre, claro. Às vezes ele modifica um pouco sua atuação dependendo do filme, então nós nunca podemos saber quem é o verdadeiro Richard Gere. Quem será o real Richard Gere, o galã ingênuo ou o galã conquistador? É algo que nunca saberemos e talvez fiquemos discutindo isso por toda a vida.

George Clooney é o contrário disso tudo. Nós sabemos bem quem é ele, seu papel nunca muda, nunca vai nos pegar no contrapé. Ele é como a história de Malhação, pode até mudar a casca, mas não muda a essência. Em Plantão Médico, doutor Doug Ross garbosamente salvava vidas, com aquele sorrisinho sarcástico no rosto. A imagem saturou e George Clooney mudou de roupa, colocou um paletó, camisa, esqueceu a gravata e continuou com o sorrisinho sarcástico, sendo o que sempre foi. Pela constância, no duelo dos galãs, Clooney ganha, não há rivais à altura, ninguém é suficientemente charmoso para fazer-lhe frente.

Tento ser como George Clooney em todas as situações da minha vida, por exemplo, quando vou comprar pão. Você pode achar que uma situação prosaica como comprar pão não exige elegância, mas engana-se redondamente. Clooney nos ensinou que em todas as situações da vida deve-se demonstrar um sorrisinho sarcástico para adquirir a confiança do interlocutor, ou para conseguir favores sexuais, ou para não pagar a conta da padaria, ou os três. Então, quando for pedir pães lembre-se de fazê-lo como George faria, sorrindo sarcasticamente e com um olhar sedutor. "Quatro pães franceses, por favor" - diga e tente imaginar onde ficaria a câmera, você sabe, para pegar seu melhor perfil, mas tente também não conseguir favores sexuais com a padeira gorda.

11 de abril de 2005

Soja

(Para dre, que tem a irritante mania de comer soja. E para o Ian, de quem roubei uma piada do post.)

Arrependo-me de muitas coisas. Arrepender-se é um ato muito saudável e demonstra auto-crítica, por isso não confie em gente que só diz que se arrepende do que não fez. Essa gente exibe a presunção de nunca ter cometido alguma tolice, o que obviamente é uma mentira, afinal, todo mundo faz besteira. Para comprovar isso, é só olhar seu último almoço. Aposto que você comeu um monte de bobagem, é melhor começar a se arrepender. Eu, por exemplo, já comi carne de soja.

***

Soja não foi feita para ser leite, nem para ser carne, nem para ser comida. Quando eu fui ao interior de Goiás - fui para lá ontem, não de corpo, fui mentalmente -, conheci um menininho franzino chamado Francisco. Ele brincava feliz em meio aos pés de soja, de vez em quando pegando um grãozinho de soja e usando-o como bolinha de gude, ou jogando-o no riacho para vê-lo quicar. Perguntei-lhe se ele sabia que aquele grãozinho com o qual brincava feliz podia virar leite e, pior, carne. Ele me respondeu negativamente e, com os olhos grandes cheios de lágrimas, indagou: "Se isso é leite, o que é que sai das tetas da Marilda?" Eu não soube responder, fiquei meio encabulado. Francisco, então, argutamente, disse a mim: "Ora, mas isso não é nem comida! Quanto mais leite! Não podemos comer essa coisa que só serve para diversão, que só serve para eu brincar com os grãos! E não pode ser leite algo que não sai das tetas da Marilda! Não pode ser carne algo que não é animal! A cada vez que você comer um grão de soja, ferirá a minha alma. Não coma soja, isso não é da natureza. Dica de goiano."

Foi o Francisco que disse. Dica de goiano.

5 de abril de 2005

Papa

Mas que coisa triste esse episódio do papa, não? Bom é a vida, quem vive de passado é museu, falemos sobre outra coisa. Eu soube que o domínio do blog de um amigo de um meu amigo, o Parmalat mas não morde, foi tirado do ar por pedido da Parmalat. E ainda dizem que as empresas capitalistas só visam o lucro, que não têm nenhuma responsabilidade social, que não se preocupam com o fato de a juventude estar se afundando nas drogas.

Percebe-se que a Parmalat contraria todos esses preconceitos, não visando lucro algum, portanto, estando quase falida, e ainda protegendo a nossa sociedade de domínios com trocadilhos ridiculamente infames.

À primeira vista, parece apenas mais um arroubo de autoritarismo, já que o menino que tinha o blog com tal nome não prejudicava de forma nenhuma os negócios da empresa. Mas analisando o caso mais a fundo, vemos que a Parmalat em momento algum pretendeu ceifar a liberdade do rapaz, mal se preocupou com a patente de sua marca sendo usada por outrem - ela quis apenas privar a sociedade de tal título tão enfadonho.

Posso até imaginar um dos executivos da Parmalat, esquálido, navegando na internet quando dá de cara com o blog Parmalat mas não morde e pula da cadeira, tapando os olhos de tanto desprazer. Como apenas a própria Parmalat podia acabar com esse ataque ao Estado de Direito, seus diretores imediatamente decidiram-se pela remoção do domínio do garoto. "Não podemos deixar que este endereço corrompa nossos filhos." - disseram.

Cai até uma lágrima de meus olhos ao pensar no zelo que a Parmalat tem pelo bom-gosto na internet. Deus seja louvado.

3 de abril de 2005

Paternidade

O pai de uma participante do Big Brother acaba de falar no Domingão do Faustão que gosta tanto de sua filha que desejava que ela tivesse saído de sua barriga. A declaração parece muito elogiosa, muito lisonjeira, parece até demonstrar grande carinho do pai pela filha, mas isso é um engodo, melhor abrir os olhos.

Ao contrário das mulheres, homens não possuem útero nem qualquer outro órgão similar que pudesse abrigar um feto. (Provavelmente homens não têm nem estômago, mas isso não vem ao caso, não estamos falando sobre digestão.) Desta forma, a única estrutura na barriga do macho humano a que o pai da moça poderia se referir era o intestino. Ou seja, o pai tencionava defecar a filha - o que é realmente pavoroso, nada elogioso, bem pouco lisonjeiro e, me arrisco a dizer, sem ternura alguma.

Portanto, peço aqui aos leitores que tomem cuidado com essas declarações apaixonadas de seus pais (os pais mesmo, os homens), pois elas podem revelar que seu pai queria lhe cagar. Aí já viu, né. Nenhum amor resiste a isso.

2 de abril de 2005

Coragem

Depois de assistir a diversas brigas na internet, chego à conclusão de que sempre constatam que as pessoas são muito corajosas atrás do computador. "Atrás do computador, você é só coragem!", sempre leio por aí alguém dizendo com grande satisfação, demonstrando que ele sim é muito bravo e seu oponente não passa de um frangotezinho, um borra-botas, um troca-tintas, um suja-laudas. Sugiro novas frasezinhas de revolta: "Na internet, você é o He-man!"; ou "Só faz isso aqui, né?!"

***

Gostaria de conhecer alguém que é um poltrão na internet, mas muito destemido na vida real. Seria muito mais pitoresco e infinitamente mais intrigante. "Vamos, não quer brigar?" "Ora, você muito corajoso na vida real! Gostaria de saber se você é assim na internet! Desafio-te para uma partida de Counter Strike!" "Ah, não, não, perdoe-me, não te afrontarei mais." - ele falaria morrendo de vergonha.

***

So to speak, acho ainda que seria melhor se todos fossem como eu: covardes tanto na vida real quanto na internet.

25 de março de 2005

Heróis

Astroboy, herói do desenho animado que leva seu nome, é um robô que usa sunga e voa por aí salvando todo mundo das situações mais adversas. Eu me recuso a ser salvo por um robô de sunga, I'm very sorry, Astro. Assim como me recuso a ser salvo pelo Super-Homem, pelo Batman, pelo Flash, pelo Lanterna Verde ou por qualquer outro herói que use sungas.

A razão disso é muito simples: não podemos ser salvos por gente inferior a nós. Se alguém nos salva, é porque é superior a nós, porque tem habilidades de que não dispomos, porque é superdotado de alguma forma, e gente de sunga não é superior a ninguém. Talvez gente de sunga seja superior a você, mas não é superior a mim, e acho que se Bruce Wayne lutasse contra o mal usando seu elegante terno, Gotham City lhe seria muito mais grata. Só sou salvo por gente mais bem vestida que eu, porque assim minha auto-estima não é afetada. Você pode até pensar o contrário, pode pensar que isso é uma tolice, mas perceba que os melhores nadadores não usam sungas e sim colants e que os melhores surfistas não usam sungas e sim bermudas.

***

Estou convicto de que Terri Schiavo, a mulher que está há quinze anos viva por meio de aparelhos, quer morrer. Não sei se ela queria morrer antes, só que agora muito provavelmente ela quer, deve ter perdido o amor pela vida, certamente está triste pelo modo com que os acontecimentos se desenrolaram. O Judiciário americano havia determinado o desligamento dos aparelhos, mas o Congresso votou uma lei que proibe a eutanásia, o que manterá Terri viva.

Se ela de alguma forma soube que isso aconteceu, morrerá de desgosto, com sua auto-estima profundamente combalida, totalmente humilhada. Terri Schiavo teve sua vida salva por políticos. É melhor deixar claro: nem gente de sunga é inferior a um político.

(Ps.: Escrevi este texto levianamente, sem conferir nada, e acabo de descobrir que os aparelhos de Terri Schiavo estão desligados. Ela não vai morrer tão infeliz, at least.)

23 de março de 2005

Lamúria

Tenho um anúncio importante deveras a fazer e quero que todos aqui prestem bastante atenção. Venho notando uma tendência no mundinho dos blogs e percebo que algo deve ser feito para frear o avanço dessa onda, portanto, proíbo o uso da palavra "lamúria" por todos aqueles que escrevem poemas góticos. Ninguém mais escreve lamúria nenhuma, seu uso, a partir de hoje, é vetado. Então, você aí, saia de trás desse arbusto, eu o vi escrevendo lamúria no chão. E você, mocinha?, pare de escrever lamúria pelos cantos, estou vigiando, ninguém me escapa.

Aposto meus suspensórios que os poemas góticos ficarão excepcionalmente melhores com a retirada da palavra lamúria. Eu gostaria de proibir a utilização de templates do Marilyn Manson também, mas temo não ser capaz de coibir seu uso - essas pessoas que fazem poemas góticos correm o risco de ficarem felizes sem usar os templates do Marilyn Manson e acabarão revoltando-se contra mim. É um medo que muito me aflige todas as noites.

18 de março de 2005

Cultura

Descobri hoje que o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, assinou um documento tombando todo tipo de manifestação cultural feita em solo pernambucano pelo imaginário popular - e não por qualquer elitizadozinho por aí, como vocês podem achar, pois tem que ser do povo, tem que ser da nossa gente. Então, já que escrevo em solo pernambucano, em Recife, estou precisando saber se sou ralé o suficiente para ter meu blog figurando como patrimônio cultural do Estado (o que seria muito lisonjeiro, pense você: o Manipulação seria tão importante para o país quanto as músicas da banda Brega.com, que é muito pernambucana, é muito gente-como-a-gente, é muito arte-do-povo).

Como não sei por onde ou para quem perguntar, exporei minha dúvida aqui: como faço para saber se sou plebe o suficiente para meu blog ser tombado pelo governador? Tenho certeza de que sou bem gentinha, mas preciso me certificar antes de ficar orgulhoso, antes que eu saia cantando de clérigo para todo mundo.

Estou fazendo um exaustivo trabalho para parecer menos nobre, não fazendo o mínimo esforço para limpar o rosto, ficando todo remelentinho e meio suado, mas creio que isso ainda não será suficiente e penso que ainda terei que entortar alguns dentes para parecer do povo. Espero mais sugestões para dar um improvement na minha cara de sofrido e assim figurar no topo da produção cultural do Nordeste.

E agora, com licença, vou comer feijão com farinha.

15 de março de 2005

Democracia

Perguntaram-me - com aquele sorrisinho esperto no canto da boca e olhando-me de esguelha - se eu penso que democracia é encher urnas. Ainda não tenho certeza, mas acho que foi uma pergunta retórica, já que, para mim, democracia é isso aí mesmo, encher urnas, escolher uns paspalhos para fazer aquilo que não queremos fazer e talvez até consista naquele negócio de liberdade de imprensa, não sei ao certo. E foi isso que eu disse quando me perguntaram, só que aparentemente não foi uma resposta satisfatória, pois ficaram me olhando torto, dizendo que todo mundo espera mais da democracia, querendo que ela proveja, além de eleições, dignidade, afeto e amor para os cidadãos. Que se fosse uma ditadura comunista, poderia até não haver liberdade, mas haveria dignidade para todos.

Ou seja, são pessoas muito carentes, que precisam que o governos lhes dê dignidade, enquanto todo mundo consegue desenvolver esse tipo de coisa sozinho (algumas pessoas até não desenvolvem, acredite, mas não se sentem mal com isso). Para essa gente, se estiverem com problemas psicológicos, precisando de uma esmolinha de dignidade do governo, recomendo a psicanálise ou o site ParPerfeito.com.br, que pode ajudar muito a recuperar a auto-estima. Anote aí.

***

E, aproveitando o post, não posso deixar de dizer que estou todo pimpão com o elogio de Alexandre Soares Silva a mim em seu blog, tanto que estou olhando com o nariz empinado para todo mundo. Em primeiro lugar porque sou fã dele. E também porque gostaria há muito de mandar um abraço e um tapinha na bunda para alguém por aqui. Desta vez, vai para ele. Obrigado, Alexandre!

13 de março de 2005

Onde Aguinaldo Silva errou

A cena do casamento de Maria do Carmo com o bicheiro no capítulo final de Senhora do Destino não poderia ter sido mais ridícula e imbecil, o que mostra que faltou a Aguinaldo Silva a sensibilidade para cativar os espectadores. Esta sensibilidade, modéstia à parte, ocorreu-me e eu sugiro à Globo que refilme a cena para quando for passar a novela no Vale a Pena Ver de Novo. Eis a melhor cena de casamento, na minha opinião:

(São Nunca, que era o padre, pergunta ao bicheiro do qual não me recordo o nome e à Maria do Carmo se eles desejam unir-se em matrimônio.)

São Nunca: Bicheiro, desejas unir-se à Maria do Carmo, amando-a e respeitando-a, na alegria e no vocês-sabem-o-resto?
Bicheiro: Sim.
São Nunca: Maria do Carmo, desejas se casar com o bicheiro, amando-o e tudo o mais?
Maria do Carmo: Sim, desejo.
São Nunca: Mas vocês vão se casar só no dia de São Nunca!

(Risos descontrolados do resto do elenco. Carol Castro tira a blusa e cai no chão rindo. Leandra Leal tira a blusa, coloca a boina para esconder seus seios e sai correndo pelo set sem motivo aparente.)

***

Falando em Globo, descobri hoje que Didi Mocó escreveu um livro ano passado, chamado Amizade Sem Fim, com prefácio de Carlos Heitor Cony - que diz que a obra tem de tudo para figurar com mérito e dignidade na prateleira da nobre literatura nacional. Quer dizer, a despeito dos erros de português e das vírgulas mal colocadas, Didi Mocó é um escritor de mão cheia, e não apenas um grande humorista, como todo mundo sabe e se farta de tanto rir.

O livro conta a história de um milionário que fez voto de pobreza e descobriu numa regressão hipnótica que ele tem uma conexão - que não compreendi muito bem qual é - com Jesus Cristo. Então, o livro fala sobre a violência carioca e de como o protagonista desvirgina uma enfermeira.

Didi Mocó quis ser sério nesta obra, o que é muito desolador, já que, provavelmente, a enfermeira não tem um marido negão que aparece depois querendo bater em todo mundo. Uma falta de absurdo totalmente lamentável: Renato Aragão não aprendeu nada em tantos anos atuando em A Turma do Didi. Mas ainda há esperança: ele já está preparando seu segundo romance. Talvez neste haja um negão corno violento querendo bater em todo mundo.

11 de março de 2005

Senhora do Destino

Acho que o Aguinaldo Silva entrou num concurso para fazer o pior final de novela da história, uma competição entre ele e o Walcir Carrasco. Claro que o Walcir sai ganhando porque suas novelas já são uma porcaria só por levarem seu nome e, com uma novela porcaria, um final porcaria é muito mais fácil de ser feito. Mas Aguinaldo Silva não quer ficar atrás e, com Senhora do Destino, entrou para o hall dos autores que fazem finais de novelas mais idiotas desse meu Brasilzão.

Aguinaldo Silva mostrou que é capaz de ser um dos maiores escritores de Malhação da história e, desta forma, espero que a direção da Globo tome as providências cabíveis, alocando o autor no núcleo jovem da emissora. Gostaria, por sinal, de mandar uma mensagem ao grande Aguinaldão, dizendo que agora que ele será o autor da novelinha que, por favor, coloque o João para apanhar do pai; vai dar uma super alavancada na audiência, além de, claro, tornar o programinha bem mais interessante.

Espero realmente que ele leia.

9 de março de 2005

Soletrando o Código da Vinci

No embalo das publicações sobre o Código da Vinci - tais como Quebrando o Código da Vinci, Revelando o Código da Vinci e Decifrando o Código da Vinci -, eu vos mostro meu mais novo trabalho, o Soletrando o Código da Vinci, fruto de anos de pesquisa em que não li o Código da Vinci, mas posso imaginar que seja que um livro muito bacana - assim como também posso imaginar que não o seja, e, na verdade, imagino que seja um livro que fala sobre Formula 1.

Dado isso, mostro aqui em primeira mão para meus queridos leitores fiéis o Soletrando o Código da Vinci, que chegará em breve ao mercado brasileiro.

Soletrando o Código da Vinci
Autor: Howard S. Frost
Tradução: João Pereira Froste

"Vamos lá, repita comigo: C, Ó, D, I, G, O, respire, D, A, respire, V, I, N, C, I."
E, em breve, do mesmo autor, eu mesmo, Silabando o Código da Vinci, com todos os truques de separação e pronúncia das silabas do Código da Vinci. Eis uma prévia:

Silabando o Código da Vinci
Autor: Howard S. Frost
Tradução: Froste Assis

"Diga em voz alta, depois de mim: cê, ó, có; dê, i, di...
Soon.

3 de março de 2005

Moda

O capacete dos soldados da missão brasileira no Haiti é azul, um azul clarinho, o conhecido azul-calcinha. Percebe-se que os brasileiros são mestres na arte da camuflagem, colocando um uniforme verde com um capacete combinando, portanto, sugiro às tropas brasileiras que usem botas cor-de-rosa e que coloquem um alvo na cabeça, para ficarem com um look super moderno e praticamente invisíveis aos bandidos haitianos. Duvido inclusive que receberiam uma alfinetada do Ronaldo Ésper.

Claro que eu sei que o capacete azul e a roupa verde dos brasileiros pode ajudar muito em situações de risco. Por exemplo, se o soldado, numa vicissitude, for obrigado a fugir, ele pode esconder a cabeça numa piscina e o resto do corpo no meio de uns arbustos. Nunca o encontrariam. Todos os países deveriam adotar nosso modelito para suas Forças Armadas.

***

Quando eu penso num soldado brasileiro se escondendo, sempre imagino-o agachado atrás de um grande vaso de plantas com o capacete aparecendo, talvez mostrando o cofrinho. Na verdade, penso num soldado precisamente atrás do grande vaso de plantas que fica no corredor daqui de minha casa - até porque acho que eu não conseguiria imaginar outro vaso de plantas em outro lugar, pois creio piamente que esse é o único vaso de plantas que existe. Tenho passado muito tempo neste lugar, deitado, sem fazer nada, e aquele vaso ficou gravado na minha cabeça.

O grande vaso de plantas do outro lado do corredor é uma das poucas coisas que eu sei da minha casa, pois só transito entre o quarto, a cozinha e o banheiro. O resto da casa permanece um mistério tão incógnito que eu tenho medo que haja escorpiões, lobisomens ou até Petit Gateaus nos outros aposentos. It scares me to hell.

(Este é o mapa da minha casa na minha mente.)

***

- A Samanta fez uma comunidade no orkut para o Manipulação, vejam aqui. Obrigado, Samanta!

- Já o Ian fez uma comunidade para o Neto, comentarista e estrela do Esporte Total da Band.

Juntem-se.

26 de fevereiro de 2005

Descoberta

Sexólogos e pedagogos sempre dão entrevistas por aí dizendo que os adolescentes estão na fase de descobrir o próprio corpo e que isso se deve aos hormônios e tudo mais. Antes da minha adolescência, por exemplo, eu não sabia absolutamente nada do meu corpo e por isso eu mijava sem usar a mão para mirar na privada, o que ocasionava problemas terríveis, tais como deixar molhada a tampa do vaso. Foi uma época muito difícil da minha vida porque eu não sabia que o pinto precisava de uma ajuda para saber aonde deve-se urinar.

***

Para ajudar todos os adolescentes do mundo, digo-lhes que seu corpo é só isso mesmo, pois talvez vocês tenham ficado em dúvida se existe algo mais ao ouvirem um sexólogo dizer que a adolescência é a fase da descoberta. Não adianta procurar, não tem um tesouro, é só isso aí que você viu no espelho - talvez tenha até algumas coisas na parte de trás do corpo, mas isso é apenas especulação, ninguém provou nada. E ainda digo-lhes que a adolescência não é a fase da descoberta do próprio corpo, mas sim a fase da descoberta do corpo alheio. Leve diferença, questão de referencial.

21 de fevereiro de 2005

Elegância

É preciso muita elegância para uma mulher peituda sair correndo por aí com seus peitos balançando. Por isso, gostaria de pedir para as peitudas não correrem por aí se não tiverem a expressividade necessária, a elegância, a técnica precisa para balançar os seios em público enquanto corre. O balançar de seios é uma arte que não deve ser profanada, não pode ser blasfemada da forma que vem sendo, neste mundo onde toda mulher peituda não tem o mínimo de pudor ao correr.

Para provar minha tese, cito duas cenas. Uma é do primeiro filme de Tomb Raider, quando Angelina Jolie começa a correr do desmoronamento da caverna onde estava. Não sei se vocês já viram, mas eu lhes digo que é uma corrida com elegância, em câmera lenta, em que os seios de Angelina postam-se na posição perfeita, sincronizados - sem falar da expressividade da atriz, que não apenas preocupa-se em correr e balançar os peitos de forma exemplar, mas também preocupa-se em salvar a própria vida. A outra cena, a ruim, é de Malhação, de quando Joana Balaguer ouve seu namorado dizer a um amigo que gosta de outra. Grávida, Joana começa a correr desengonçadamente, balançando os peitos sem cuidado nenhum (certas vezes eles iam para direções diametralmente opostas), sem câmera lenta, mostrando a falta de experiência da atriz em correr, em balançar peito e em atuar de forma geral. Comparando as cenas, percebemos que Angelina Jolie pode correr por aí e Joana Balauguer, infelizmente, ainda tem que comer muito arroz com feijão.

Isso mostra que a humanidade é intrinsecamente errada pois mulheres com peitos grandes que não sabem correr acabam correndo, ofendendo as pessoas de bem, que nada fizeram para merecer aquilo. Portanto, leitora de seios grandes, nunca corra, nem que seja muito necessário, se você não quiser ferir a alma de quem te observa. Vai uma sugestão: treine um pouco em casa para quando precisar correr numa situação de emergência, algum dia.

Se você já sabe correr, por favor, saia na rua, correndo e saltitando, para encher os olhos de gente como eu, que cresceu vendo Baywatch.

16 de fevereiro de 2005

Patota movida a música e Michael Jackson

Temos que esclarecer algumas coisas para a galerinha blogueira: vocês não são movidos a música. Podem viver e até bem confortavelmente sem música, num agradável silêncio. Juro por estas calças que visto (veja, são jeans, compridas, meio desconfortáveis, admito). Gostaria que essa moçadinha esperta que se diz movida a música tentasse fechar o Winamp para ver se eles ficam parados, pois eu acho que não, e a mim esse negócio de movido a música não convence.

Vamos separar as coisas: você só é movido a música se você vive no mundo dos filmes musicais, onde todo mundo sai por aí, cantando e dançando, sem pudor algum (é um mundo realmente feliz. Eu gostaria muito de viver nele). Se você não sai pela rua cantando e dançando, você não é movido a música, talvez nem seja movido a coisa alguma, é possível que você fique aí mesmo, parado. Portanto, coleguinhas, esqueçam esse negócio de ser movido a música porque é meio ridículo.

***

Dizem que os americanos são hipócritas por seu conservadorismo, por sua mania de não gostar de gente nua aparecendo na televisão, por serem canhotos, por usarem uns bigodinhos feiosos. Compartilho desta visão: os americanos são uns hipócritas pois estão tentando destruir a lenda que é Michael Jackson, estão tentando matar o ídolo, acabar com um dos que tornou os Estados Unidos a potência que são hoje.

Serão injustos se condenarem o Rei do Pop porque ele nada deve a sociedade, concordam? Se Michael legou ao mundo o moonwalk, nada mais justo que ceder a ele algumas crianças para satisfazer suas taras doentias. Se Thriller não vale isso, eu não sei o que vale.

14 de fevereiro de 2005

Sobre as coisas de que gosto em Recife

Os jovenzinhos super conscientes de seu papel como cidadãos aqui em Recife odeiam essa postura minha de ficar falando mal dessa terrinha abençoada por Deus, porque eu deveria dar valor ao que é da gente, essas coisas do povo brasileiro, do Nordeste nordestino. "Affe, vai pros Estado Unidus, seu burguês x(", eu sempre leio por aí, o que me faz ficar muito triste, porque não passo de um menino bom que não tem nada contra Recife, e digo-lhes que até gosto de algumas coisas desta cidade tão bela.

A coisa que eu mais gosto em Recife é o Aeroporto Internacional dos Guararapes, que é muito bonito, passou por uma reforma recentemente para ficar mais bonito ainda, e agora traz muita felicidade às pessoas que entram nele, que ficam morrendo de vontade de ir embora, e mal conseguem conter a euforia. Sempre ouvimos por lá frases do tipo "Meu amado Deus, vou embora!", ou "Pensei que ia ficar preso nesse lugar até o fim da vida!", ou até "Cirlene, a gente está aqui, minha filha!" (normalmente esta última vem acompanhada de cartazes e faixas como "Benvinda devolta, Cirlene" e umas 20 pessoas meio cabeludas demais comemorando a chegada da Cirlene, que estava estudando no Pará).

O Aeroporto dos Guararapes, também chamado de Aeroporto Gilberto Freyre, proporciona uma experiência aprazível deveras, eu diria única, na arte de ir embora de Recife. Ir embora do Recife não é coisa para amadores, para neófitos aventureiros, é algo que deve ser aproveitado do começo ao fim, e essa experiência só o Aeroporto pode proporcionar, um aeroporto singular, pois lá pensamos que não estamos mais em Recife, uma coisa maravilhosa. Vocês sabem, não estar no Recife é uma satisfação quase sexual, o paraíso na Terra, o Éden dos pobrinhos.

Então, meus queridos jovens super antenados com seu papel na sociedade, não fiquem tristes comigo porque eu gosto de muitas coisas de Recife, como o aeroporto, e se forem ficar com raiva de mim, escolham um motivo mais legal, como por exemplo o fato de eu ter a barba rala - um ódio muito mais justificável e bem mais simpático. (Imagine-se falando "Eu o odeio por causa de sua barba rala!" Você seria uma pessoa realmente admirada. "Nossa, veja como os ódios do Alcir são simpáticos, acho que vou dar para ele!", várias menininhas diriam, aposto.)

11 de fevereiro de 2005

O triste mundo das Pessoas Complexas

Estou aqui, sem nada para fazer e sem dormir. Só durmo quando tenho coisas importantes para fazer, a gente esquece as coisas importantes quando dorme. Então, decidi postar, pois uma semana se passou e nenhum texto foi escrito - mas vocês me entendem, foi culpa do Carnaval, apontem para ele. Escrevi então este post, sobre o declínio da civilização e caldas de cereja.

***

Pois bem, caldas de cereja são muito gostosas. Isso é tudo o que tenho que dizer sobre caldas de cereja, vamos agora falar sobre o declínio da civilização. Chutarei uma previsão, o que é algo que muito me deixa contente, porque adoro previsões, mesmo que estupidamente burras, e também adoro chutar, mesmo quando não tenho embasamento algum. Chuto convictamente que o Galvão Bueno ficará careca, pois acho que a testa dele tem aumentado vários centímetros nos últimos anos. E chuto que daqui a 500 anos a humanidade não terá evoluído absolutamente nada, digo, em escala global, a economia minguará, a humanidade emburrecerá.

Tenho uma teoria, que considero superior a qualquer outra que já existe (e na verdade eu chuto que realmente seja): as pessoas se tornaram complexas demais para evoluirem. Ninguém mais responde uma pergunta de sim ou não com sim ou não, sempre somos deparados com fatores muito mais complexos. "Mas veja só, cara, as coisas não são tão simples quanto parecem." Ficaram complexos demais para um sim, um não, quem sabe até um talvez.

Se a gente inocentemente pergunta se a pessoa quer um copo d'água, o sim ou não (duas opções tão bonitinhas e que ficam tristes quando as esquecemos), são esquecidos e dão lugar aos fatores muito mais complexos que fogem à nossa compreensão simplista.

Outro dia, perguntei a um amigo como ele estava, se estava bem ou mal, uma pergunta de fácil resposta, bastava escolher uma opção, mas ele não escolheu nenhuma, ele é uma pessoa complexa. Disse-me que estava "atordoado com aquela enchente de sentimentos contraditórios e intensos". Seu empenho em explicar-me como ele estava não respondeu à pergunta, continuei sem saber se ele estava bem ou mal. Perguntei-lhe se aquilo significava que ele estava bem, então. Ele me disse que não sabia ao certo e que "a alma humana não pode ser resumida nesses reles parâmetros".

Meu bom Deus.

É por isso que acho que daqui a quinhentos anos estaremos de mal a pior, acho até que estaremos extintos.

E o dia do apocalipse chegará quando o DOS perguntar a alguém:

- Format C:? (y/n)
- Veja bem, essa questão é mais complexa do que parece...

We're all dead.

4 de fevereiro de 2005

Devaneios

Vou direto ao ponto porque não gosto de enrolar, vocês sabem, sou uma pessoa muito sucinta, então, ouçam e ouçam bem: não se lê blogs em que o autor diz na descrição "Estes são os pensamentos e devaneios de uma mente perturbada". Todo mundo tem pensamentos e devaneios de uma mente perturbada e estou começando a achar que eu sou o anormal por não ter pensamentos e devaneios de uma mente perturbada. Qual o problema das pessoas? Orgulham-se de terem pensamentos e devaneios de uma mente perturbada? De que mais vão se orgulhar? De sair na rua com a cueca na cabeça? De protestar contra o imperialismo? Quem sabe até orgulhem-se de serem vegetarianos. Ninguém é normal, percebam. Li também em um blog uma descrição dizendo que o autor está eternamente "absorto no mundo dos pensamentos". O mundo dos pensamentos deve estar superpovoado de blogueiros maluquinhos que, Deus, usam a palavra "devaneio" à torto e à direito. Perdemos as rédeas completamente.

29 de janeiro de 2005

Por que os jovens têm tantos sentimentos bonitos?

Vi um jovem uma vez fazendo um manifesto pelo amor no mundo, escrevendo coisas bonitas e recitando-as, daquele jeito pacífico de ser, sabe? Daquele jeitinho indigno, totalmente indigno. Jovens também adoram se manifestar a favor da paz, do afeto, do carinho, da misericórdia, da caridade. E não pensam pequeno, é tudo em escala global, não querem apenas a paz no bairro, querem a paz no mundo, a união entre os povos, e talvez a união entre humanos, animais e extraterrestres, "por um universo melhor".

Pergunto: por que os jovens têm tantos sentimentos bonitos? E por que eles não escondem esses sentimentos bonitos? Uma falta de pudor terrível. Um jovem que não esconde seus sentimentos bonitos e sai falando sobre amor por aí é como uma menina que não esconde suas vergonhas e aparece na rua desse jeito.

Qualquer sentimento bonito exposto em público é um estupro, acredite em mim. Não deixe que ninguém invada sua privacidade: esconda seus sentimentos bonitos.

28 de janeiro de 2005

Campanha pela Moralização dos Nicks do MSN

Uma leitora pediu autorização no meu MSN e isso alertou-me para um problema nacional, algo que devemos combater, uma guerra silenciosa que a cada dia derrota mais e mais pessoas e mal nos damos conta de como isso é deletério para nossa sociedade. Refiro-me ao Problema do Nick Assexuado, que, ouso dizer, é pior que o Problema da Escrita Feiosinha, e mata mais que a leptospirose.

Tal leitora tinha o nick de The Dreamer, o que dava margem a toda uma gama de possibilidades de sexo da pessoa, porque seu nick não era masculino, nem feminino, talvez nem se encaixe em hermafrodita, e eu poderia pensar que a leitora era um alien, uma minhoca, ou um carrinho de rolimã até o fim da vida, ignorando seu real gênero.

Quando ela me disse que era uma menina, senti-me um tanto aliviado, a imagem de conversar com um carrinho de rolimã pareceu-me ruim, e é nisso que consiste a minha luta, não uma luta particular, uma luta para o bem comum, e acho que devemos ser sensíveis a esse tipo de problema. Um problema que deixa bilhões de pessoas constrangidas mundo a fora diariamente, que é não saber o sexo da pessoa com quem se conversa e o motivo por que seu nick não especifica esse tipo de coisa.

É sob esse espectro que lanço a Campanha pela Moralização dos Nicks do MSN, para que estes especifiquem o nome ou pseudônimo da pessoa, que estes especifiquem o sexo da pessoa, para que não haja qualquer tipo de antipatia ou animosidade entre as partes que conversam. Sabem, aquele provérbio chinês pode ser bonitinho, catito, mas você não se chama Uma bela flor é incompleta sem suas folhas, e, acredito eu, isso nem especifica se você é uma pessoa ou uma goma-de-mascar.

Nossa juventude precisa de limites, modos, e devemos começar a nos preocupar com essas coisas pequenas, mas que formam o caráter da pessoa. Já há gente demais preocupando-se com a fome e a peste, essas coisas podem ser relegadas a segundo plano. Pode até parecer risível para você, mas é muito importante para o futuro da nossa nação. Nossos jovens já são comunistas, já ficam pelados publicamente, suspeito que até falem com estranhos. Precisam de um freio. O nick assexuado é um problema nacional e não adianta mais fingir que não existe. Junte-se a mim - a nós, a quem acredita num mundo melhor - nessa luta.

Campanha pela Moralização dos Nicks do MSN - clique
Ajude-nos nesta batalha, publicando este gif em seu blog sem nenhum ônus adicional.

Update: Fiz mais alguns gifs promocionais para melhor adequar as cores ao blog das pessoas de bem que querem contribuir nesta cruzada. Agora, além do verde escuro, vocês têm à disposição um gif verde-vômito (que na verdade fiz para combinar com o Manipulação), um vermelho, um azul, um cor-de-rosa com estrelinhas e um laranja. Peço que se colocarem o gif, linkem este post, para que as pessoas entendam as motivações da nossa luta. Grato.

27 de janeiro de 2005

João e o pé de Petit Gateau*

*Petit Gateau é uma sobremesa francesa que mistura bolo e sorvete. Eis uma foto.

Há muito tempo atrás, quando o Rei Alfredo ainda reinava, no interior da Inglaterra vivia uma pobre viúva, que tinha um filho rebelde e perdulário, o João, também chamado de Pereira, embora seu sobrenome seja Fitzgerald e ninguém saiba de onde vinha seu apelido. João gastou todo o dinheiro de sua mãe em Petit Gateau e deixou-a furiosa, pois a viúva sempre tentou iniciá-lo no mundo da boa culinária. Bastava ele comprar um Petit Gateau e a mãe subia na mesa, chutava o prato onde o filho comia a iguaria francesa para o lado, pegava um panelão de feijão e colocava na frente de João. "Ora, mas que diabos! Tem que comer feijão! FEI-JÃO!", ela sempre dizia.

Mas o vício do filho acabou com a fortuna da mãe e eles empobreceram, restando à viúva somente uma velha vaca. João amolou muito sua mãe para que eles vendessem o animal e ela acabou concordando, embora não soubesse como sobreviveriam depois. João levou a vaca para a vila e encontrou um açougueiro que propôs-lhe trocar a vaca por uma pequena porção de Petit Gateau mágico que ele levava no chapéu. Iludido, João aceitou a proposta, voltou pra casa e colocou o Petit Gateau na mesa para comer, não obstante não ter visto nada de mágico na sobremesa. Aquele Petit Gateau quase em nada diferia dos Petit Gateaus comuns - se não fosse a presença de alguns piolhinhos, umas caspas e fios de cabelo (provavelmente porque o açougueiro carregava o Petit Gateau em seu chapéu), João nunca perceberia que aquele era mágico.

Quando havia comido metade do Petit Gateau, sua mãe percebeu, subiu na mesa e chutou o Petit Gateau pela janela para o quintal de casa, gritando "Raios, filho, raios! Você trocou nossa última riqueza por um Petit Gateau cheio de piolhos? E o feijão? E o feijão? O que comeremos nos dias que seguem?" Colocou as mãos na cintura e bateu a cabeça duas vezes na parede, enquanto dava uma reboladinha. João ficou muito envergonhado e prometeu vender suas louças que comprara exatamente para comer Petit Gateau. Foram os dois dormir.

No dia seguinte, ao acordar, João percebeu uma sombra em sua janela, e viu que o Petit Gateau que sua mãe havia chutado pela janela para o quintal germinou e nasceu um enorme pé de Petit Gateau, que, pensou ele, ia até as nuvens, com suas hastes espessas. João começou a subir no pé de Petit Gateau para ver até onde ele levava, mas quando chegou no topo da planta, nada havia lá, e as nuvens ainda ficavam uns 15 metros acima de sua cabeça. Ficou desapontado por ter se cansado à toa, até que viu outra planta crescendo e ficando maior seu pé de Petit Gateau, trespassando as nuvens, ao lado do pé onde estava, a uns oito metros de distância.

Um jovem foi subindo na outra planta rapidamente e quando estava quase chegando nas nuvens, olhou para João com desprezo e perguntou "Esse não é um pé de feijão, certo?" "Certo, veja os Petit Gateaus nascendo às hastes deste pé, com uma doce calda de chocolate!", respondeu João. "Pois o meu é! Imagino que tenha comprado um Petit Gateau mágico na vila!", disse o jovem. "Troquei por uma velha vaca que era de posse de minha mãe." "E não vai alcançar as nuvens com isso! Se tivesse trocado por feijão, estaria chegando à casa do Gigante cheia de ouro, como eu! Veja este pé de feijão, tão mais alto e mais forte! Da próxima vez, compre feijão! FEI-JÃO!", disse o jovem, desaparecendo nas nuvens, apontando para João e rindo da sua desgraça.

João arrependeu-se por nunca ter escutado sua mãe, desceu do pé e morreu de fome. Nunca mais teve a oportunidade de comer um belo prato de feijão preto. Conta-se que o outro rapaz jamais colocou na boca um Petit Gateau.

24 de janeiro de 2005

AVC

Detesto postar de novo sobre Big Brother, amigos, mas vocês me perdoam, é pelo bem da piada. Não sei se vocês viram, mas se não viram, conto-lhes: a pobre teve um AVC dentro do programa. Vocês já pensaram o que aconteceria se tivesse ocorrido o mesmo na casa dela?

Lembro da última vez em que vi um pobre ferido na rua. Ele tinha um corte no braço, que era uma coisa horrível de se ver (mas ninguém se preocupava, até porque era impossível de ver qualquer coisa, já que formou-se um ajuntamento enorme de gente em volta do pobre). Começaram a jogar café no machucado do rapaz, muito café. Não sei se eles queriam tomar uma xícara, mas receio que uma ferida aberta em carne viva não seja lá o melhor lugar para se passar um cafezinho, e antes que começassem a jogar leite em pó, fui embora.

Espero nunca descobrir quanto café obrigariam a tal do BBB a comer se ela tivesse AVC em casa.

20 de janeiro de 2005

Contra o stress

Todas as técnicas de combate ao stress estão erradas. É contraproducente combater o excesso de trabalho com mais trabalho. As pessoas que estão estressadas normalmente procuram academias para descarregar sua raiva batendo em bonecos de plástico, ou vão a um terapeuta, ou cortam os pulsos.

Não adianta querer combater o stress com medicamentos, porque, bem, você tem que estar acordado para tomar remédio, e o melhor tratamento contra o stress é dormir, óbvio. Pagar uma consulta no médico é duplamente nocivo: você não é curado e ainda perde dinheiro para um terapeuta carequinha, provavelmente mal vestido, chamado Mário.

Certas pessoas tentam se desestressar fazendo yoga ou Tai Chi Chuan, mas eu nunca vi alguém desestressado por causa disso, e me arrisco a dizer que as pessoas ficam mais idiotas com essas coisas. Outro dia, assisti a uma palestra de um professor de yoga. Defendendo a yoga, ele disse que tudo é relativo, e que nem sempre 1 mais 1 é 2, e exemplificou, dizendo que pode haver uma caixas com uma laranja e outra com duas, aí 1 mais 1 seria igual a 3. Isso prova que quem faz yoga é idiota e que vocês não deviam estar meditando, mas dormindo, que é muito mais produtivo e desestressante. O Tai Chi Chuan também é malévolo para as pessoas, porque deixam-nas mais lentas. Ora, se eu quero mover o meu braço, eu movo o meu braço, pois, acredite, aulas de como mover o braço devagar vão te deixar mais estafado.

Portanto, para relaxar as tensões, vá dormir, ou vá gastar dinheiro com algo útil, alguma coisa que não tenha a ver com yoga. E não experimente esses métodos heterodoxos anti-stress, principalmente os que envolvem comida, porque invariavelmente vão te fazer comer coisas que eram destinados ao uso industrial, como granola, salada ou sabão em barra.

***

Update: Para desestressar: a melhor tirinha do mundo! Vi aqui.

18 de janeiro de 2005

Teclado

Usei por três dias o Tecladinho Virtual do Windows. Foi uma coisa pavorosa que não desejo nem ao meu pior inimigo. (Não, peraí, desejo sim.) Meu teclado real quebrou. Tentei reanimá-lo usando, bem, técnicas de reanimação de teclados, como o eletrochoque. Mas não funcionou e o teclado faleceu. Segue uma figura do teclado e uma foto demonstrando meu estupor:


À esquerda, o teclado, moribundo. Na foto da direita, eu, condescendente.

Pois eis que ontem eu comprei um magnífico teclado novo. Por somente 700 reais, levei para casa um daqueles cheios de botões cujas finalidades desconheço por completo. Tem centenas deles. Meu novo teclado é um espetáculo de luzes, cores e sons. Às vezes fico em dúvida se estou utilizando um teclado de computador ou uma estação espacial.

Morro de medo de apertar qualquer um dos botões desta belezinha, mas eles devem ter alguma serventia. O botão chamado "Nuclear Holocaust", por exemplo, deve servir para algo, só que infelizmente eu não sei o que é esse algo e acho que terei que conviver com essa dúvida para sempre. Porque eu não sei inglês, né. Se eu soubesse, minha situação melhoraria muito, talvez eu até deduzisse qual a utilidade de certas teclas. O Instituto Rio Branco acha que nem os diplomatas precisam saber inglês, então para que um mero carpinteiro como eu precisaria?

Meu teclado novo teclado é incrível, mas é meio frustrante não poder desfrutar de todas as suas funções. Disseram-me que ele, se manuseado corretamente, poderia cozinhar e lavar roupa. Sugiro aos fabricantes que insiram nas próximas versões dos teclados botões chamados "Oxente" e "Diacho!" para facilitar a minha vida e a dos diplomatas brasileiros.

14 de janeiro de 2005

Los Hermanos

No post anterior, um leitor disse que é errado associar Anna Julia a Los Hermanos. Eles não são Anna Julia, são muito mais que ela, e é ofensivo associar uma música de uma banda à própria banda. Cocei a cabeça perguntando-me por quê. Assim, eu até concordo um pouco. Tentei associar a Nona Sinfonia a Los Hermanos, mas concluí que ela já estava associada a Beethoven. Tentei, em vão, associar La Primavera a Los Hermanos, mas já estava associada a Vivaldi. Num esforço derradeiro, tentei associar The Only a Los Hermanos, só que The Only, infelizmente, estava associada ao Static X. Ainda estou tentando desassociar Na Boquinha da Garrafa da Companhia do Pagode, para poder associá-la ao Los Hermanos.

Só não vejo o que há de depreciativo associar em uma música ruim a uma banda ruim (que, por acaso, fez a música ruim. É uma ligação natural banda-música). Ora, não estou maldizendo nada. Dizem-me que avaliar Los Hermanos por Anna Julia é um engodo, porque eles produzem coisa muito melhor, são os artistas da nova geração, estão revivendo o samba brasileiro - que, curiosamente, estava morto e eu nem sabia (creio que nem os sambistas sabiam).

Los Hermanos é a Xuxa do meio musical. Quando acusam-na de ser uma atriz pornô, ela diz que já passou, que aquela fase ficou para trás, que seu passado negro não deve ser remexido, que o filme Amor Estranho Amor foi um lapso de consciência. A propósito, fãs de Los Hermanos, o Metallica também mudou o estilo, ganhou mais público e foi acusado de ser vendido. Porque o Los Hermanos não é vendido? Eles são comprados? Alguém, por favor, explique para mim, porque eu não estou entendendo mais nada.

No post anterior, eu disse que queria falar algo sobre pernil fora do prazo de validade e naftalina no mesmo post de Los Hermanos. Porém, já me esqueci do que ia escrever. Provavelmente era uma analogia do pernil mofado às barbas ridículas dos integrantes do LH. You'll never know.

Pobres e feios

Eu tinha algo para dizer sobre Los Hermanos, naftalina e pernil fora do prazo de validade, mas estou desconcentrado demais pensando na indiazinha do Big Brother Brasil e não poderei falar nada. Esse é o tipo de inconveniente que a Globo me traz: sonhos pornográficos.

Paradoxalmente, hoje entrou no programa uma pobrinha feiosa, por sorteio de cartas. Acho que ela conseguirá equilibrar toda a formosura da indiazinha (de quem desconheço o nome completamente), mas isso me deixou meio triste: vou ter que ligar a TV e ver gente feia de hoje em diante. O que será de mim? Que tipo de emissora é a Rede Globo? Uma emissora que coloca gente feia num programa de TV? Ora, por favor! (Digo isso e chuto a quina da mesa, ferindo-me mortalmente.)

A pobre também ganhou imunidade para a votação da próxima semana, por votação popular, sabe como é, com aquela carinha de pobre, não tinha como o povo não ficar comovido. O brasileiro olhava para aquele rostinho de matuta e dizia "Óuuunnn! Deve até comer de colher e faca!", e ficou com pena.

7 de janeiro de 2005

Colchonismo e dissidências

Aconteceram vários milagres depois do maremoto na Ásia: dois gêmeos de nove anos sobreviveram graças a uma mulher que os carregou nas costas e chegou à terra firme seguindo uma serpente; um bebê de um mês foi encontrado vivo no telhado de uma casa na Indonésia; um menino de cinco anos sobreviveu por dois dias boiando sobre um colchão.

Eu acredito em qualquer asneira que me falam, mas essa serpente não me engana, deve ser armação. Ao contrário do telhado, que é santo mesmo, e do colchão que, claro, é o Deus vivo. Glória ao colchão, aleluia! Muito me admira que ninguém ainda tenha aderido ao colchonismo - do qual sou adepto desde antes do desastre na Ásia.

Na religião do Rodolfo ex-Raimundos, o pastor ministra o culto de bermuda, sandália e camiseta, e o altar é uma prancha de surfe. O colchonismo vai mais longe, permitindo que os fiéis fiquem dormindo, vestidos ou nus, em casa em vez de perder tempo indo a um templo. Eu, por exemplo, quando vi a notícia dos maremotos na TV, calmamente virei para o lado, me cobri e dormi. Foi uma forma de rezar ao colchão e acreditar na sua benevolência.

Ouvi dizer que tem um grupinho de pessoas na Índia tentando criar o telhadismo, dissidência do colchonismo que acredita que o telhado que salvou o bebê é Deus. Uma tolice, lógico. Todo mundo sabe que Deus é o colchão e que o telhado é seu profeta.