Pretendo deixar o país o mais breve possível. Temo ver outro jornalista constrangedoramente falando sobre Severino Cavalcanti enquanto faz um paralelo com Morte e Vida Severina. Comparar o Severino de João Cabral com o Presidente da Câmara é um crime, que, por conta de nossa Constituição arcaica, não tem pena prevista em lei. Felizmente, José Carlos Aleluia não foi eleito, não dando margem para análises políticas intituladas ?E agora, José??, que ficariam sem as punições cabíveis.
Enquanto coloco estes chocolates com recheio de baunilha na bagagem, caros, eu lhes digo que esses não são Severinos iguais em tudo na vida. Cavalcanti não é filho de Maria nem do finado Zacarias, portanto, jornalistas, parem de escrever tais coisas degradantes. Alguém tem que pôr um ponto final nisso tudo. Proponho a Severino Cavalcanti a paralisação da votação de todas as Medidas Provisórias enquanto o Presidente Lula não baixar um decreto proibindo a citação de João Cabral de Melo Neto em colunas sobre o cenário político nacional.
Morando em Recife, posso captar o sentimento da população quanto a Severino Cavalcanti. Em geral, os pernambucanos ficaram muito magoados com sua eleição, pois, segundo o consenso, ele não representa o povo, não representa os reais Severinos, pobres, sofridos, só com a cova que lhes cabe dentro do latifúndio. Triste. Somos assim, não nos importamos com os reais problemas da nação, nunca atentamos para o que de fato deve ser observado. Em vez de nos indignarmos com a eleição de Severino Cavalcanti, deveríamos fazer um levante contra a utilização de poemas em análises políticas. Em que mundo você quer que seus filhos vivam? Num mundo onde todo mundo sai falando sobre Severinos que morrem de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia? Eu não quero esse mundo para as próximas gerações. E isso não é muito alarde por pouco. O povo pernambucano só se conscientizará da importância de zelar pela integridade de nossos poemas quando um recifense for eleito Presidente do Senado e alguém citar Vou-me embora para Pasárgada.
Outra vantagem de viver em Recife é que há muitas embaixadas por aqui. Penso em ir até a embaixada de Rondônia e pedir asilo intelectual. Será maravilhoso, porque um lugar inóspito como Rondônia não deve possuir jornais ou qualquer tipo de veículo de comunicação. E, mesmo que possua, imagino que o Rei daquele país filtre toda a informação que chega aos rondonienses. Portanto, estarei a salvo de comparações ridículas entre um personagem ficcional e um Presidente de Câmara. Vou-me embora para Rondônia. Em Rondônia não tem nada, é outra civilização.
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