Desisti de ir a uma palestra de Abram Zylbersztajn sobre humor judaico. Zylbersztajn já lançou dois livros de compilações de piadas de judeu, os volumes 1 e 2 de "As Melhores Piadas do Humor Judaico". É um especialista no tema. Nunca fui a uma palestra sobre piadas de coisa alguma e, pelo visto, passarei mais algum tempo sem ir. Não sei o que Abram disse na palestra, mas espero que ele tenha dedicado um tempo a explicar como se pronuncia de seu sobrenome, que é algo que me intriga mais do que as piadas de judeu. Dar palestra sobre piada de judeu é moleza, não tem segredo algum. Para fazer uma piada dessas, basta assumir que todos os judeus são avarentos, que todos os judeus têm o nariz grande e recurvado, que todos os judeus têm sotaque de judeu e que todos os judeus falam na terceira pessoa. Muito mais interessante que uma palestra sobre piadas de judeu seria uma palestra sobre piadas de anão - muito embora os anões sejam engraçados por si só, não precisando de piada nenhuma. Mesmo assim, se ficarem sabendo de alguma palestra sobre piadas de anão, não hesitem em me chamar.
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Recentemente foi inaugurado um monumento em Berlim que homenageia os judeus mortos pelo nazismo. Desenhado pelo arquiteto americano Peter Eisenman, o monumento é constituído de 2.711 blocos de concreto de diferentes tamanhos e sua idéia é transmitir uma sensação de desconforto e solidão que lembre o sofrimento dos judeus vitimados pelo Terceiro Reich. No entanto, o único sofrimento de que lembro quando olho o monumento é o meu, porque a construção é absurdamente feia e agride os meus olhos. Espero que, visto de dentro, ele lembre mais os pobres judeus.
Uma crítica feita ao monumento foi ao fato de ele não homenagear todas as vítimas do nazismo, mas apenas os judeus, excluindo os ciganos e as testemunhas-de-Jeová, por exemplo. Não conheço absolutamente nada dos ciganos, mas, se as testemunhas-de-Jeová realmente se incomodaram, as autoridades alemãs podem ficar sossegadas, pois elas (as testemunhas-de-Jeová) têm um longo histórico de mudanças de idéia. Se agora estão revoltadas com a omissão alemã do seu sofrimento, em breve, chuto, elas mudarão de idéia e ficarão até felizes com o fato.
As testemunhas-de-Jeová achavam que o Armagedom viria antes que a geração de 1914 desaparecesse. A geração de 1914, entretanto, vem morrendo e o Armagedom ainda não veio. Por isso, pensaram até em mudar o ano da geração do juízo final de 1914 para 1957 para dar mais tempo para o Armagedom chegar, porque ele é meio lentinho e não aparece quando deve. Tentaram justificar a mudança do ano com o lançamento do Sputinik pelos soviéticos. Esperemos, pois, que as testemunhas-de-Jeová não considerem mais pecado a transfusão de sangue após o homem pisar em Marte.
Também em 1914, acreditavam as testemunhas-de-Jeová, havia começado o julgamento das nações, em que Jesus estava separando os cabritos das ovelhas. Um tempo depois, decidiram que o julgamento só começará após a vinda de Cristo. Sobre o serviço militar, as testemunhas-de-Jeová achavam que não era bíblico. Mas, em 1978, o Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia - instituição das testemunhas-de-Jeová - decidiu votar o serviço militar alternativo (atividades administrativas em vez de essencialmente militares), mostrando que havia algumas dúvidas e talvez o serviço militar fosse um pouquinho bíblico. Hoje em dia, a Torre de Vigia admite que o serviço militar alternativo não é pecado.
Os judeus precisam de Abram Zylbersztajn para fazer piada de si mesmos. As testemunhas-de-Jeová, pelo menos, já fazem de sua crença uma piada. (A propósito, avisem-me se conhecerem uma testemunha-de-Jeová anã. Deve ser a coisa mais hilária do planeta.)
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