Quando me deixaram escrever na Revista Paradoxo, achei de bom tom lê-la, já que nunca tinha feito isso. Na capa havia uma entrevista com Ferréz, mas não achei que seria um bom começo para mim na revista. Primeiro por causa dos óculos horríveis que ele usa. Eu, instintivamente, ao ver a foto de Ferréz, fecharia a janela e não leria nada. Também pelo fato de Ferréz ser marginal demais para mim. Creio que não estou preparado para tanta marginalidade. Achei melhor ler um artigo sobre o velório do Papa João Paulo II, mas parei quando o articulista usou a expressão "modelo consumista ocidentalizado". Poxa, eu gosto tanto do modelo consumista ocidentalizado, não quero que fiquem falando pelas costas do pobrezinho. E, inclusive, não tenho preconceito contra o modelo consumista orientalizado, se é que ele existe. Gostaria que todos os modelos consumistas vivessem juntinhos, em harmonia.
Na seção de colunas da revista, chamou minha atenção a descrição da coluna da Sarah Bergamasco: "Minha missão é revelar um olhar novo e feminino sobre as questões mais inusitadas." Gostaria de dizer às mulheres para pararem de querer lançar olhares femininos sobre tudo. Façam como eu, lancem olhares assexuados sobre algum assunto clichê, às vezes. Transformem-se mentalmente numa alface e falem, digamos, sobre economia. Noto que as alfaces não fazem ação afirmativa de gênero, um exemplo muito digno que deveria ser seguido pelas mulheres.
Esclareço que não tenho nada contra os olhares femininos, acho-os muito bonitos e elegantes (sou particularmente atraído por cílios bem feitos), mas pretendo evitar que as mulheres usem seu olhar assim, a esmo, para não vulgarizá-lo.
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Não quero que pensem que escrevi essa coluna falando mal da Sarah Bergamasco somente para aparecer. É claro que foi somente para aparecer, mas eu não quero que pensem isso, quero que pensem que foi por algum motivo nobre. Pensem que foi pela valorização do sexo feminino, pela paz mundial ou algo igualmente vergonhoso. Só espero que vocês não fiquem falando coisas desagradáveis a meu respeito por aí, como que eu não tenho respeito por ninguém, ou que só escrevo esses absurdos para chamar atenção, porque ninguém gosta de ficar ouvindo obviedades.
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