Teve a idéia de retratar as humildes famílias produtoras de paçoca do sertão do Rio Grande do Norte e começou a produção de seu documentário com verbas do Ministério da Cultura. O Cineasta Brasileiro estava retratando, dizia, um importante aspecto da cultura nacional, e que revelar os hábitos do povo pobre de longe dos grandes centros urbanos do Brasil é a tarefa primordial qualquer pessoa que faça cinema no país. Seu filme, Sertão e Suor, mostrava a tocante rotina dos sertanejos que pisavam nos amendoins para moê-los e, como os amendoins do sertão são mais duros que o normal, acabavam com os pés totalmente calejados ao fim do dia de trabalho.
Sertão e Suor ficou em exibição nos cinemas do país por mais de um mês, e foi um recorde de público, uma verdadeira febre. Quando sua obra entrou em cartaz, o Cineasta Brasileiro deu uma entrevista para a Folha Ilustrada, onde declarou que "o cinema deve servir como instrumento de transformação social". Ganhou um Kikito em Gramado, o prêmio mais ridículo do cinema mundial, e também ganhou vários elogios de atores presentes no evento, que acrescentavam ainda que era natural que o filme fosse bom, pois em Gramado está sempre a fina flor do cinema brasileiro. Pouco depois, o Cineasta Brasileiro foi premiado em Cannes, este o prêmio mais banal do cinema mundial, o que encheu os brasileiros de orgulho, pois o talento da nossa gente estava sendo reconhecido. Europeus em Cannes disseram que o documentário foi "um retrato fiel da realidade brasileira, que servirá para que as pessoas despertem uma consciência crítica em relação às mazelas do Terceiro Mundo".
O documentário, por fim, foi o indicado brasileiro ao Oscar, criando grande expectativa no público. No domingo da premiação, Marília Gabriela e Rubens Ewald Filho asseveraram que, neste ano, o Brasil teria que levar a estatueta, pois era mais que merecido, e o talento do Cineasta Brasileiro já estava mais do que provado. Sertão e Suor perdeu para um filme espanhol e, no dia seguinte, em comentário no Jornal da Globo, Arnaldo Jabor afirmou com sua típica acidez: "Os velhinhos da Academia, recostados em suas confortáveis poltronas, não querem saber dos problemas do Terceiro Mundo. Desprezam essas absurdidades presentes em nossos filmes. O Cineasta Brasileiro, com seu talento inegável, levou às telas dos americanos a realidade que eles - e o Bush - tanto desprezam. Ao invés de serem imparciais e premiarem com sensatez, os velhinhos da Academia preferem se curvar ao lobby da Miramax. A nós, pobres terceiro-mundistas, só resta lamentar."
O Cineasta Brasileiro, então, começou a produzir outro filme, um sobre a venda de cocos em balsas nos rios do interior do Amazonas. Algumas vezes, Sertão e Suor concorre com pornochanchadas da Vera Fischer (tais como Gata em Teto de Zinco Quente e Navalha na Carne) no Intercine e perde, porém o filme ainda pode ser assistido de madrugada duas vezes ao ano no Canal Brasil.
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