11 de abril de 2005

Soja

(Para dre, que tem a irritante mania de comer soja. E para o Ian, de quem roubei uma piada do post.)

Arrependo-me de muitas coisas. Arrepender-se é um ato muito saudável e demonstra auto-crítica, por isso não confie em gente que só diz que se arrepende do que não fez. Essa gente exibe a presunção de nunca ter cometido alguma tolice, o que obviamente é uma mentira, afinal, todo mundo faz besteira. Para comprovar isso, é só olhar seu último almoço. Aposto que você comeu um monte de bobagem, é melhor começar a se arrepender. Eu, por exemplo, já comi carne de soja.

***

Soja não foi feita para ser leite, nem para ser carne, nem para ser comida. Quando eu fui ao interior de Goiás - fui para lá ontem, não de corpo, fui mentalmente -, conheci um menininho franzino chamado Francisco. Ele brincava feliz em meio aos pés de soja, de vez em quando pegando um grãozinho de soja e usando-o como bolinha de gude, ou jogando-o no riacho para vê-lo quicar. Perguntei-lhe se ele sabia que aquele grãozinho com o qual brincava feliz podia virar leite e, pior, carne. Ele me respondeu negativamente e, com os olhos grandes cheios de lágrimas, indagou: "Se isso é leite, o que é que sai das tetas da Marilda?" Eu não soube responder, fiquei meio encabulado. Francisco, então, argutamente, disse a mim: "Ora, mas isso não é nem comida! Quanto mais leite! Não podemos comer essa coisa que só serve para diversão, que só serve para eu brincar com os grãos! E não pode ser leite algo que não sai das tetas da Marilda! Não pode ser carne algo que não é animal! A cada vez que você comer um grão de soja, ferirá a minha alma. Não coma soja, isso não é da natureza. Dica de goiano."

Foi o Francisco que disse. Dica de goiano.

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