18 de dezembro de 2004

O duelo contra a avenida

Tentei ir ao show Xuxa Circo no Classic Hall, aqui em Recife. Peguei meu velotrol, vesti minha camisa do Txutxucão e pus-me no caminho. Andei dez metros de velotrol e quase tive um ataque cardíaco. Caí no chão e quase morri de câncer no pâncreas. Decidi ir de ônibus mesmo, com o velocípede embaixo do braço.

Xuxa Circo é uma variante do Xuxa e os Baixinhos que rodeou o planeta há alguns anos, com a diferença de que Xuxa Circo tem paquitas com shortinhos pulando por entre bambolês.

Saltei do coletivo e tentei dirigir-me até o local da apresentação.

Em frente ao Classic Hall há uma avenida monstruosamente gigantesca que é impossível de ser atravessada - tanto por sua largura quanto pela velocidade dos veículos. Quando fui ao show do Offspring, tal rua também insistia em se postar entre mim e a casa de shows. Dessa vez, a avenida novamente me desafiava. Eu, honradamente, aceitei o desafio, pois dessa vez vencê-la seria mais fácil.

Eu contava com uma letal arma contra a velocidade dos carros, ônibus e caminhões de muamba: meu velotrol Bandeirante:


Velotrol Bandeirante 1.6 Flex Turbo
Especificações técnicas:

Velocidade Máxima: 2 Km/h
Cilindradas: 12 cc
Cilindros: 2 (uma perna ou duas simultâneas)
Potência: 1 Cv
Comprimento: 0,1 m
Peso: 2 Kg

Convicto estava eu: "Posso vencer!" E realmente, as chances pareciam grandes. Tão grandes que eu não percebi um erro crasso na estratégia. De fato, um erro primário para quem tanto entende de velotróis como eu: deixei de trocar os pneus de borracha por pneus de plástico. O atrito com o chão seria maior dessa forma. Este erro me custaria valiosos segundos na luta para atravesar a avenida - que, chutando por baixo, tinha uns 3 mil metros de largura.

Ainda assim, eu confiava em meu velotrol. Sentei-me sobre ele e preparei-me para ir. Girei o pedal furiosamente e andei 20 centímetros em 10 segundos. Praticamente um cometa. Minha velocidade continuou gigantesca até que um engraçadinho passou pela calçada dois segundos depois e chutou a traseira de meu veículo, o que me fez capotar para o meio da avenida. Foram três giros incríveis.

Depois disso não sei o que aconteceu, pois o câncer de pâncreas se manifestou de forma fulminante. Relatos de testemunhas confirmam a presença do câncer e de populares que roubaram meu velocípede. Um cara o pegou, colocou embaixo da blusa e saiu correndo.

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