17 de dezembro de 2004

Nordeste

Gente do sul pensa que o Nordeste como um todo é sertão. Estão certos. O Nordeste corresponde perfeitamente ao estigma que carrega. Não adianta dizerem o contrário. O chão aqui é rachado, tem árvore sem folha o ano todo, a vegetação é rasteira e há pessoas usando rapadura para adoçar o café. Nordeste é uma massa homogênea de calor e pessoas usando rapadura como açúcar.

Dentre os enormes defeitos do Nordeste (tais quais a pobreza e a fome, além de Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, etc), o maior é a presença de meu tio Aristófanes. Sim, ele existe. Ele é um misto de pedreiro, encanador, eletricista e pinguço. Ou seja, faz bico. Tem cerca de 4 dentes na boca. Joga dominó todos os dias no boteco. Roubou todos os meus mangás, inclusive meus preferidos de Neon Genesis Evangelion. Gente como essa não tem o mínimo amor ao mundo em que vive.

É por causa dele que aqui é quente, que a economia é baseada em cana e que tubarões matam surfistas na orla de Pernambuco. Estou convicto. Se ele devolver minhas revistas, a pobreza acabará, o Nordeste deixará de ser monocultor e, fatalmente, tubarões serão extintos.

Eu costumava dizer que achava que esse lugar era o inferno. Depois percebi que assim estava depreciando o coitado do inferno. Lá não tem tio Arí. E, ora, deve ter uma temperatura mais agradável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário