29 de dezembro de 2004

Ser você mesmo

Dizem para sermos nós mesmos, mas eu sou eu mesmo o tempo inteiro e às vezes fico com vontade de ser outra pessoa. Outro dia eu cismei de ser Napoleão, mas passei perto de um mendigo e ele começou a me imitar. Fiquei triste e comecei a ser outra pessoa, o presidente Bush. Tentei mandar tropas para invadir o Brasil, mas logo descobriram que eu era eu e disseram para eu ser eu mesmo.

Me enfezei e quis ser outra pessoa. Virei Pereira Gomes, guarda de trânsito. Até tentei ficar parado e usar um apito para parar o trânsito, mas um cara me atropelou. Anotei a placa.

27 de dezembro de 2004

Matar

Quando quero provar a estupidez humana, cito o latrocínio. Das criações do homem - tirando talvez o uso de gatos como bichos de estimação - o latrocínio é a coisa mais burra. De longe. Assalto seguido de assassinato. Qual é a lógica disso? - pergunto colocando as mãos na cabeça e balançando-a aleatoriamente.

Não seria muito mais lógico o assassinato seguido de assalto? Ora, ora, é muito mais fácil roubar alguém morto, pelo menos eu acho. Dizem que ladrões são doentes sociais. Eu diria que eles são burros, pois dão margem a uma reação da vítima do assalto. Mas veja, não vá sair por aí matando ninguém, são apenas devaneios.

***

Falando em matar, os vegetarianos nos acusam, os carnívoros suados e fedorentos, de sermos assassinos que matam vaquinhas somente para comer. Pergunto-me qual a utilidade da vaca senão para ser comida. Pelo menos as plantinhas podem decorar nossos muros e jardinzinhos.

Quem colocaria uma vaca no próprio jardim? Ou na própria varanda? Uma visita chega e pergunta "Mas que bela vaca! Me dá uma muda para eu plantar e nascer uma bezerrinha no meu quintal?" Afirmo que assassinos são eles, vegetarianos, que comem as plantinhas que poderiam decorar as casas de todas as pessoas do mundo.

Não que eu tenha alguma planta aqui em casa, mas acho que é mais fácil regar uma planta que regar uma vaca. Ou colocar pasto pra ela, sei lá.

24 de dezembro de 2004

O sentimento do Natal

Estávamos eu e um amigo no ônibus, quando sobe um rapaz. Ele se senta num banco à nossa frente e, em certa altura da viagem, eis que ele pede para passarmos o celular. Como não uso esse tipo de coisa moderna, o custo do assalto recaiu sobre meu amigo que passou seu Oi modelo 2002 para o ladrão. Este que olhou para o celular e disse:

- Não, cara. Tô vendo que você tá em pior situação que eu. Pode ficar com ele.

E devolveu o telefone de meu amigo.

Este é o sentimento de Natal: piedade. Espero que em todos os dias de suas vidas, leitores, os ladrões devolvam seus celulares por verem que, na verdade, vocês são apenas pobres à margem da sociedade.

(Na verdade, desejo-lhes muito dinheiro neste Natal. Mas, for God's sake, não comprem um celular muito novo.)

19 de dezembro de 2004

Adestramento

O Santos foi campeão brasileiro, entretanto, o fato mais constrangedor do domingo foi a Família Lima tocando Kashmir (grande clássico do Led Zeppelin) no Domingão do Faustão. Coisa que muito me entristeceu, enchendo meu coração de desgosto.

***

Li no orkut uma pessoa dizendo que a cambada que lê Olavo de Carvalho, Diogo Mainardi ou Bolsonaro são discípulos adestrados. Dos três, o único que leio é Diogo Mainardi. Olavo de Carvalho, não leio. Nunca ouvi falar de Bolsonaro.

A questão é: se eu fui adestrado por meu mestre Mainardi, por que eu nunca ganhei um osso ou um biscoito canino? Bem que eu mereceria. Ele pede para eu deitar, eu deito; ele pede para eu rolar, eu rolo; aí, eu ganho um osso ou carne na ração. Tenho esse direito, não?

Exijo que eu seja recompensado após fazer qualquer coisa. Um bife de vaca após um salto mortal. Um osso depois de rolar no chão. Quero, inclusive, minha coleirinha anti-pulgas e minha medalhinha de identificação.

18 de dezembro de 2004

O duelo contra a avenida

Tentei ir ao show Xuxa Circo no Classic Hall, aqui em Recife. Peguei meu velotrol, vesti minha camisa do Txutxucão e pus-me no caminho. Andei dez metros de velotrol e quase tive um ataque cardíaco. Caí no chão e quase morri de câncer no pâncreas. Decidi ir de ônibus mesmo, com o velocípede embaixo do braço.

Xuxa Circo é uma variante do Xuxa e os Baixinhos que rodeou o planeta há alguns anos, com a diferença de que Xuxa Circo tem paquitas com shortinhos pulando por entre bambolês.

Saltei do coletivo e tentei dirigir-me até o local da apresentação.

Em frente ao Classic Hall há uma avenida monstruosamente gigantesca que é impossível de ser atravessada - tanto por sua largura quanto pela velocidade dos veículos. Quando fui ao show do Offspring, tal rua também insistia em se postar entre mim e a casa de shows. Dessa vez, a avenida novamente me desafiava. Eu, honradamente, aceitei o desafio, pois dessa vez vencê-la seria mais fácil.

Eu contava com uma letal arma contra a velocidade dos carros, ônibus e caminhões de muamba: meu velotrol Bandeirante:


Velotrol Bandeirante 1.6 Flex Turbo
Especificações técnicas:

Velocidade Máxima: 2 Km/h
Cilindradas: 12 cc
Cilindros: 2 (uma perna ou duas simultâneas)
Potência: 1 Cv
Comprimento: 0,1 m
Peso: 2 Kg

Convicto estava eu: "Posso vencer!" E realmente, as chances pareciam grandes. Tão grandes que eu não percebi um erro crasso na estratégia. De fato, um erro primário para quem tanto entende de velotróis como eu: deixei de trocar os pneus de borracha por pneus de plástico. O atrito com o chão seria maior dessa forma. Este erro me custaria valiosos segundos na luta para atravesar a avenida - que, chutando por baixo, tinha uns 3 mil metros de largura.

Ainda assim, eu confiava em meu velotrol. Sentei-me sobre ele e preparei-me para ir. Girei o pedal furiosamente e andei 20 centímetros em 10 segundos. Praticamente um cometa. Minha velocidade continuou gigantesca até que um engraçadinho passou pela calçada dois segundos depois e chutou a traseira de meu veículo, o que me fez capotar para o meio da avenida. Foram três giros incríveis.

Depois disso não sei o que aconteceu, pois o câncer de pâncreas se manifestou de forma fulminante. Relatos de testemunhas confirmam a presença do câncer e de populares que roubaram meu velocípede. Um cara o pegou, colocou embaixo da blusa e saiu correndo.

17 de dezembro de 2004

Nordeste

Gente do sul pensa que o Nordeste como um todo é sertão. Estão certos. O Nordeste corresponde perfeitamente ao estigma que carrega. Não adianta dizerem o contrário. O chão aqui é rachado, tem árvore sem folha o ano todo, a vegetação é rasteira e há pessoas usando rapadura para adoçar o café. Nordeste é uma massa homogênea de calor e pessoas usando rapadura como açúcar.

Dentre os enormes defeitos do Nordeste (tais quais a pobreza e a fome, além de Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, etc), o maior é a presença de meu tio Aristófanes. Sim, ele existe. Ele é um misto de pedreiro, encanador, eletricista e pinguço. Ou seja, faz bico. Tem cerca de 4 dentes na boca. Joga dominó todos os dias no boteco. Roubou todos os meus mangás, inclusive meus preferidos de Neon Genesis Evangelion. Gente como essa não tem o mínimo amor ao mundo em que vive.

É por causa dele que aqui é quente, que a economia é baseada em cana e que tubarões matam surfistas na orla de Pernambuco. Estou convicto. Se ele devolver minhas revistas, a pobreza acabará, o Nordeste deixará de ser monocultor e, fatalmente, tubarões serão extintos.

Eu costumava dizer que achava que esse lugar era o inferno. Depois percebi que assim estava depreciando o coitado do inferno. Lá não tem tio Arí. E, ora, deve ter uma temperatura mais agradável.

16 de dezembro de 2004

Sobre o Jornalismo

Acabo de ver no Jornal do SBT a equipe do SBT do Rio Grande do Sul agradecendo pelo prêmio Esso que receberam por uma matéria que falava sobre mulheres presas, algo assim. "Estamos muito felizes com isso. Porque acreditamos no jornalismo. O jornalismo é, acima de tudo, contar histórias."

Um conceito novo de jornalismo. E eu aqui pensando que estava apenas contando histórias. Tolinho. Sempre fui um jornalista. Diploma é coisa para fracassados.

O jornalismo do SBT tem um estranho conceito de divulgação de notícias. Por exemplo, quando falaram do jogo beneficente dos amigos de Ronaldo contra os amigos de Zidane. "Jogo contra a fome termina empatado em 4 a 4." Ou seja, se eles não vencem a fome, pelo menos empatam, e assim fica tudo na mesma.

Para falar a verdade, até hoje eu nem sabia que SBT tinha jornalismo. Foi um baque tremendo. Para mim, o SBT apenas reprisava os programas de Ratinho e de Hebe Camargo repetidamente durante todo o dia. Daqui a pouco vão me dizer que eles têm novelas e artistas próprios.

***

Claro, claro, não posso me esquecer da TV Tribuna - a rede local da Record aqui em Pernambuco - que tem um programa de reportagens sobre morte. É o Jornal da Tribuna. Eles vão para os bairros miseráveis do Recife, tais quais o Cóque e Jordão Alto, e mostram na TV os defuntos das pessoas, dizendo que aquilo é uma falta de absurdo.

No entanto, outro dia, ao passear pelo shopping, vi um corpo que havia aparecido no Jornal da Tribuna e gritei de medo. Pensei que só aparecesse gente morta naquilo. Saí correndo e entrei no fraldário, porque acabei fazendo caquinha. Precisei me trocar, passar Hipoglós e um pouco de talquinho.

15 de dezembro de 2004

Gilberto Barros

Oh, que preguiça de postar. Colhi votos de milhares de pessoas para saber se eu deveria. Bom, ninguém quis. Fui à janela - agora mesmo, às 4h00 da manhã - e gritei "posto ou não posto?". Um cara que gritou "Cala a boca, Seu Oreia!"

Desconheço o Seu Oreia.

***

Decidi postar para compartilhar minhas agruras com vocês, leitores. Pois sim, vi Gilberto Barros dançando na escola de samba Grande Rio. Não sei o que o levou a pensar que podia dançar de alguma forma sem ser ridículo. Não sei o que levou a pensar que ele podia se movimentar de alguma forma sem parecer ridículo.

Não sei o que o levou a se movimentar.

A UERJ, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é especialista em criar cotas para estudantes. Tem cota para preto, para índio, para careca, para desdentado, para gente com o pinto pequeno. Para vegetarianos. Para consumidores de Nova Schin.

Deveriam criar uma cota para Gilberto Barros no curso de Terapia Ocupacional. Pelo menos ele ficaria em casa fazendo crochê e não ia dançar em lugar nenhum. Ou ficava ensinando origami na universidade. Ou se ocupava terapeuticamente batendo a cabeça na parede. Eu agradeceria. A Grande Rio também. Poderia enfim, talvez com a ausência de Gilberto Barros, pensar em algum dia vencer o carnaval carioca.

10 de dezembro de 2004

Papai Noel

Turistas que estão em Fernando de Noronha anteciparam o ano novo. Já comemoraram e tudo, oh. E a gente aqui atrasado. Eles não agüentaram esperar. Queriam ter festa, álcool e fogos de artifício mais cedo. Os turistas de Fernando de Noronha inauguraram um novo jeito de encarar o tempo e a efemeridade da vida.

De hoje em diante, sou o senhor do meu tempo, igual aos turistas de Noronha. Quero adiantar o Natal. O Natal é hoje. E amanhã é o Natal do ano que vem. Quero todo mundo me dando presentinhos, lembrancinhas e Chester Perdigão. Oh, e depois de amanhã é o meu aniversário de 2005. E o de 2006 também. Serão dois aniversários no mesmo dia, por isso, exijo que vocês me presenteiem duplamente, amiguinhos.

***

Mamãe me contou muito tarde que Papai Noel não existe. Só quando eu completei 15 anos que ela revelou para mim que era meu pai que dispunha os presentes sob o pinheirinho em todos os Natais. Fiquei arrasado.

Meu pai tem uns 130 anos. Hoje em dia, sustenta uma parasita de 20 e poucos anos em sua casa. Não tenho nada contra. Mas me reservo ao direito de odiá-lo, claro. Deve ser por isso que ele não me telefona.

Pois anteontem atendi uma ligação peculiar aqui em casa. Atendi e ouvi Papai Noel dizendo "Hou, hou, hou, feliz Natal!". Depois entrou uma mulher dizendo que se eu quisesse falar com o bom velhinho, deveria ligar para 3207 20 20. E Papai Noel repetiu a fala anterior. Depois, desligaram. Uma propaganda telefônica. Foi a primeira vez que fui alvo de uma propaganda por telefone.

Estou revoltado com tal ligação. Irado. E até indignado. E tenho motivos para isso. Seguem:

1) Papai Noel, que é meu pai - minha mãe que disse, e ela não mente -, trocou o número do telefone e não me avisou. Nem para que pudéssemos trocar farpas demonstrando raiva mútua. Uma gigantesca falta de consideração.

2) Ele arranjou um trabalho: gravador de risadas natalinas para spam telefônico. Finalmente deve estar ganhando uns trocados. Dessa forma, para mim ainda é uma incógnita o motivo pelo qual ele não me dá nem um dinheirinho.

3) Ele nunca me mostrou sua fábrica de brinquedos, nem seu trenó, nem as renas, muito menos os anões.

Estou a um passo de entrar atirando num cinema, tamanha minha fúria. Mas vou deixar aqui um recado para meu pai:

Pai, estou disposto a um acordo. Eu deixo de ter raiva do senhor e você deixa eu dar um passeio pelo céu em cima de Rudolph, a rena do nariz vermelho.

8 de dezembro de 2004

Grande clássico da literatura infantil revisto para os tempos modernos

Eram três irmãs. Jovens. Uma pobre, uma de classe média e uma rica. Chamavam-se Neide, Gisneide e Marineide, respectivamente. As três muito atraentes, por sinal. As três casadas. Neide era muçulmana. Gisneide era católica - porém, não praticante. Marineide não tinha religião.

As três, apesar das diferenças de crenças, costumavam sair para passear juntas. Ficavam andando pelo perímetro urbano de sua cidade - Dois Córregos, no interior de São Paulo. Andavam pela pracinha. Compravam pipoca. Ficavam tricotando sobre as amigas. O único fato intrigante sobre o passeio das três, no entanto, era que elas sempre eram cantadas por Paulão - um negão de 2,17m, forte e, curiosamente, galante. E sempre gostavam, nutrindo grande afeto pelo nobre negão de 2,17m, forte e, curiosamente, galante.

Eis que, por um acaso do destino, os maridos das três moças viajam ao mesmo tempo, a negócios. O marido de Neide foi catar latinha em um lugar melhor. O de Gisneide foi visitar os pais. Já o cônjuge de Marineide viajou à Europa, buscando novas alianças comerciais.

Os três decidiram colocar cintos de castidade em suas esposas antes de irem. O mais rico colocou em Marineide um cinto de palha. Confiava na esposa. Gisneide ganhou de seu marido um cinto de madeira. Confiava medianamente em sua mulher. O marido de Neide deu a ela um cinto de cimento e tijolos. Embora fosse pobre, era esforçado. Não queria saber de sua mulher se enrabichando para o lado de ninguém - até porque sua religião era muito contundente nesse ponto.

Os maridos se ausentaram e as esposas, como normalmente faziam, foram passear na praça. Depararam-se com Paulão e acabaram cedendo à antiga atração que tinham por ele. Combinaram de se encontrar com Paulão cada uma em um dia, cada uma em sua própria casa.

Paulão foi primeiro à casa da rica Marineide. Ela não teve a mínima preocupação. Só queria prazer. Paulão não teve dificuldades em romper o cinto de castidade de palha, afinal, era um negão de 2,17m, forte e, curiosamente, galante. Foi uma noite de sexo selvagem.

No outro dia, Paulão foi à casa de Gisneide. Marineide também foi para lá. Gisneide teve até um pouco de medo de ir para o inferno. Mas desejava Paulão. Este que teve alguma resistência por parte do cinto de madeira quando tentou rompê-lo. Mas conseguiu, afinal, era um negão de 2,17m, forte e, curiosamente, galante. Foi uma noite de orgia selvagem.

Paulão, no dia seguinte, foi até a humilde casa da muçulmana hesitante Neide, que temia queimar no fogo do inferno. Mas também desejava Paulão. Suas irmãs foram para a casa dela também. Paulão tentou quebrar o cinto da moça. Pensou que ia conseguir facilmente, porque, afinal, era um negão de 2,17m, forte e, curiosamente, galante. Foi com tudo.

Fraturou o pênis.

O cinto de castidade de cimento e tijolos era mais resistente do que ele pensava. Nunca mais se relacionou com nenhuma mulher. O marido mais pobre preservou a integridade de sua esposa.

Moral da história: é dando que se recebe.

Não, não é essa. Ah, é essa: o mais esforçado sempre se dá bem em contos de fada. Relapsos se fodem. Mas normalmente os relapsos são ricos, como agora. Eles podem pagar por sexo e não perdem nada.

7 de dezembro de 2004

Financiem meu avestruz

Jô Soares acabou de entrevistar um criador de avestruzes. Não sei se ele é dono da Avestruz Master. Talvez seja. Não averigüei por preguiça. A Avestruz Master faz umas propagandas dizendo que temos que investir nosso rico dinheirinho na empresa. Dizem que é um negócio rentável e que nem precisamos de terras. Entramos com o dinheiro, eles criam.

Sinceramente, para que eu quereria financiar uma criação de avestruz e nem poder dar uma olhadinha nos meus avestruzes? Qual a vantagem de criar avestruzes e nem vê-los? Duvido que eles não ficam estressados naquela criação, só vendo a cara de outros avestruzes. Mande-os para meu apartamento. Pelo menos pelo fim de semana, para eles me fazerem companhia. Podem dormir no quarto de hóspedes. A cozinha tem comida para os pobres avestruzes. Devo até ter umas bermudas que caibam neles.

Disponho de uma acomodação confortável aqui em casa. Se não tenho ar condicionado, tenho ventilador. O único inconveniente seria o banho dos avestruzes. Acho que eles não cabem no box do banheiro. Teriam que tomar banho de mangueira.

***

Desde que aprendi webdesign, nunca ganhei um centavo com os layouts que faço. Talvez eles não mereçam pagamento mesmo. Provavelmente são ruins. Se são ruins, por favor, não me peçam para fazer. No mundo que eu sonho, ninguém quer um design ruim para o próprio site.

Agora, se quiserem que eu faça um layout para vocês, que estejam dispostos a pagar. Não responderei a nenhuma requisição de template até que falem em dinheiro. Se a conversa começar com cifras altas em dólar, responderei instantaneamente. Não sejam avarentos e paguem bem. É o mínimo que peço.

Afinal, quero começar uma criação de avestruzes. É um motivo nobre.

Ps.: Só não sei porque diabos criam avestruzes. Nunca vi alguém andando com botas de couro de avestruz pela rua. Nem querendo comer carne de avestruz no almoço. Para mim, o único motivo plausível para criar esses bichinhos seria para companhia. Se alguém me pagar por um layout algum dia, compro até uma coleira para meu avestruz - que se chamaria Totó.

5 de dezembro de 2004

O triste fim do Cinema Guararapes

Eu estava voltando para casa outro dia, como normalmente faço, quando um travesti passou uma cantada em mim. "Gatcinhô!" Saí correndo para evitar contato com tal pessoa. Temi por minha vida. Esses travestis são maiores e mais fortes que eu. Formam um paredão de prostituição na avenida Domingos Ferreira, por onde eu ando. Saí correndo do primeiro travesti. Rapidamente, mais cinco organizaram um paredão à frente. Passei a rasteira no da esquerda. Dei uma voadora no que estava ao lado.

Os três que eu ainda não havia nocauteado ficaram à minha volta. Protegi a traseira do meu corpinho imaculado. Percebi que estava sem saída. Só restou uma saída: desenhei a constelação de Pégaso no ar e usei os meteoros.

Corri para o aconchego do meu lar. Mais 136 travestis se organizaram em posição de ataque atrás de mim. Mas não sou louco. Meu cosmo ainda não era capaz de enfrentá-los. Fugi.

No caminho para casa, pensei no que fazer naquele dia. Decidi ir ao Cinema Guararapes, curiosamente localizado no Shopping Guararapes. Algo que não fosse danoso à minha integridade física.

Pensei em chamar alguém para ir. Mas o Cinema Guararapes é muito legal e eu não gosto de dividir minha felicidade com ninguém. Gosto apenas de fazer inveja nas outras pessoas. Fui pegar o ônibus. Como o ônibus vai direto ao Shopping Guararapes, percebi que, saltando lá, alguém poderia me seguir até o cinema e eu não mais poderia me divertir sozinho. Fui a pé.

Umas cinco horas se passaram e eu cheguei ao shopping. Dirigi-me diretamente ao cinema. Não me lembro do filme que passava. Isso não faz a mínima diferença, no entanto. Comprei o bilhete da única película em cartaz e fui dá-lo ao lanterninha que estava na entrada da sala.

Não havia ninguém perto do cinema. Todos mantinham uma distância segura de 150 metros do local. Talvez fosse por isso que o lanterninha me olhava de forma tão desconfiada. Estendeu a mão e disse:

- Dai-me teu passe e guiarei-te pelo caminho tortuoso e sombrio para que possas chegar a seu assento.

Abriu a cortina na entrada do cinema. Entrei, pá, bati na parede, virei e sentei.


Começou o filme. Eu não sabia qual era. Estava sozinho no cinema. Só me restou uma alternativa. Levantei o braço e minhas mãos ficaram refletidas na tela. Fiz um coelhinho com as mãos. Fiquei brincando até o filme terminar. O Cinema Guararapes era o único cinema com o projetor no mesmo plano do espectador.

Acabou o filme. Fui embora para casa. No dia seguinte, o Cinema Guararapes foi demolido. Colocaram uma filial do Box Cinemas no lugar.

E foi assim que tristemente acabou o melhor cinema do mundo. Alguns desalmados tiraram minha diversão.

Malditos.

2 de dezembro de 2004

Fome

Vejo várias pessoas ouvindo barulhos de coisas caindo nas suas cozinhas e ficando com medo. Invejo-as. Na minha cozinha não há o que cair e fazer barulho. Nem comida. O Fome Zero não atingiu minha residência.

Devido à falta de alimento em minha casa, procurei um número qualquer de fast-food, pizzaria, restaurante chinês, floricultura ou borracharia. Não encontrei nada. Cheguei, então, à conclusão de que essas coisas não mais existem e que eu terei que ficar aqui, parado, faminto.

Ah, é claro que chegar a conclusão de que as floriculturas desapareceram da face da Terra foi algo aterrorizante. Agora vou ter que comer flores de plástico.

Ao contrário da minha cozinha, meu quarto é um local cheio de coisas. Na verdade, é cheio de fios espalhados pelo chão. Se eu me mover um milimetro, pá!, morro eletrocutado. Infelizmente, fios não são comestíveis.

Mas isso não era o que eu pensava quando era criança. Comi muitos fios na infância. O cobre tinha um gosto agradável. Sério mesmo. Depois me ensinaram que metais não são digeríveis. E na oitava série, meu professor de Química disse que a sigla do cobre é Cu. Eu falava sem hesitar "Hoje, comi um Cu". "De quem?", perguntavam meus amiguinhos. "Da Geladeira", eu falava. "Nome estranho o dela, hein?", diziam. "É de origem austríaca."

***

Descobri que tenho fama de mau. Não sei o motivo. Sou uma pessoa tão afável. Quem me conhece sabe. Quem não me conhece também sabe, porque eu sou igual aos Ursinhos Carinhosos, espalhando a bondade pelo mundo. É de conhecimento geral que sou um amor.

Talvez eu tenha ganhado essa reputação de perverso por causa de minhas aventuras comendo o Cu da Geladeira. Admito que foi sem lubrificante, mas ela bem que gostou.

1 de dezembro de 2004

Manipulação psicológica

Faz anos que me esforço para vos divertir, leitores queridos e amorosos deste blogucho fofo e virtual. E hoje, eu só gostaria de pedir uma coisinha para vocês. Algo ínfimo que não tomará muito tempo e nenhum dinheiro:

Votem em mim no Big Blogger Brasil para que eu ganhe o incrível domínio .com e para que assim vocês economizem nove letras na hora de digitar o endereço de meu diarinho.

Este é meu último desejo antes de morrer, pois tenho tuberculose e estou em estado terminal.

Ps.: Votem no post intitulado "Decisão", senão o voto não vale. Tenho perdido vários votos de pessoas que comentaram no post errado.

Por via das dúvidas, vote no post que já tem trocentos comentários.