Meu irmão já foi punk. Quando eu era pequeno, achava que punk era uma dessas doenças que você pega pelo ar. Você fica muito perto de um punk e pá!, seu cabelo se torna um moicano azul, seus punhos são envoltos por uma pulseira cheia de espetos, você começa a cheirar benzina e tomar sopa com garfo.
Disseram-me para não ridicularizar esses tipinhos - punks, metaleiros, drag-queens, Jota Quest - porque eles podem ficar nervosos e juntar o seu seletíssimo grupo para me destruir. Mal posso ouvir a palavra "underground", causa um frio na espinha.
As coisas mais doidas que o meu irmão já fez aconteceram quando ele deixou de ser punk. Ou seja, punks não podem nem ser chamados de loucos. Não temos nenhum estereótipo aplicável aos punks, o que os torna obsoletos. Quando meu irmão era punk, ele sugeriu à minha mãe que doássemos uma TV de casa aos pobres porque tinhamos duas, desnecessariamente. Quando ele deixou de ser punk, pegou o carro de papai às escondidas, bateu a fronte num carro parado no semáforo e levou uma cacetada na traseira que deixou o carro um caco. Saiu correndo e deixou o carro no meio da rua.
Quando ele deixou de ser punk, também começou a se preocupar com sua dentição. Tirou os sisos e deliberadamente foi a um show punk, apesar de não ser mais dessa etnia. Então, os pontos dos sisos abriram e a boca dele encheu de sangue. Foi quando ele fez a coisa mais louca de sua vida, foi ao Hospital São Lucas para costurar os pontos de volta. O Hospital São Lucas é tão higiênico quanto um aterro sanitário. Guarda lixo hospitalar e lixo radioativo nas suas dependências. Lembro que a boca do meu irmão voltou brilhando verde para casa. Acho que ele tinha comido urânio naquele hospital. Atualmente, creio que ele tenha mutado num ser estranho diferente dos humanos, um réptil ou algo parecido. Sinto falta do meu irmão punk.
Não sei se isso prova que punks não passam de menininhos querendo se rotular, mas com certeza poderíamos substituí-los sem perdas por anões-de-circo. Não acredita? Abaixo há um diálogo que tive algum tempo atrás com um amigo:
- Punks são loucos!
- Não são!
- Claro que são! Eles tomam sopa com garfo!
- Anões-de-circo são mais doidos! Você acredita que eles são capazes de andar sobre um monociclo de 2 metros de altura?
- Sério!?
- No duro!
E foi assim que convenci meu amigo de que poderíamos substituir punks por anões-de-circo. Essa minha implicância deve ser algum trauma por não ter sido aceito entre eles. Eu preciso de um rótulo. É por isso que hoje em dia eu sou comunista, afinal, sonho em ser escritor. Pensavam que eu acreditava nesse papo de igualdade?
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