30 de julho de 2004

Amarelo-manga

Não uso celulares. Não sei usá-los. Se eu tivesse um com visor com uma luz amarela, certamente saberia usar. Todo mundo gosta de uma reluzente luz amarela. Eu sacaria meu celular na rua e pá!, todos estariam instantâneamente hipnotizados por aquela cor chamativa e cool. Eu seria uma espécie de rato de laboratório geneticamente alterado querendo dominar o mundo.

Me imagino exercendo meu poder com meu celular super cool. Destruiria opositores e qualquer pessoa que fizesse algo de meu desagrado. Afinal, quem tem um celular com uma luz amarela, tem todo o poder do mundo em mãos. Acredito que não existe um modelo com o visor amarelo. Se existisse, seu poder já teria sido deflagrado e o mundo não seria mais livre.

Domingo eu estava andando pelas ruas do Recife Antigo. E isso não é bom. Conheço tanto de Recife quanto das matas fechadas do Vietnã. Para conseguir me localizar lá, pedi ajuda à estranhos andando na rua. Aliás, muito estranhos. Ninguém anda sozinho pelo Recife Antigo numa tarde de chuva, com as ruas desertas, sem conhecer o local. Só eu e minha namorada. Pois bem que aí peço ajuda para duas pessoas. Eles só respondem "non, non, non". Quando alguém responde nononons é mau sinal. Talvez fossem índios canibais ou ETs ou paraibanos ou japoneses ou visigodos ou meu pai. Eram peruanos.

Em que mundo vivemos? Num mundo onde não podemos mais pedir informações na rua sem parecermos idiotas falando com peruanos? Num mundo onde peruanos não sabem falar português? Num mundo onde peruanos não sabem dar informações? Num mundo onde não há celulares com visores amarelos?

Naquele momento, quando eles ficaram me olhando com aquela cara asiática de peruano, eu me vislumbrei com um celular de visor amarelo. Usaria para destruí-los. A luz os atordoaria e começaríamos uma feroz batalha. Lutaríamos com fervor até que eu usaria minha Power Bazooka de Raios Amarelos no melhor estilo Changeman, e quando o peruano maldito caísse, Gyodaai usaria seu poder de aumentar os monstros para tornar meu inimigo gigante. Isso me forçaria a me tornar igualmente grande e iniciar uma nova batalha. Desta vez eu apanharia feito uma vadia até usar meu Super Raio Laser Invencível Amarelo, a la Ultraman.

A cena cortaria. Surgiriam colunas amarelas e eu apareceria dando uma risada malévola na banheira de meu palácio intergalático, onde estaria jogando Snake II em meu maravilhoso celular.

Talvez isso acontecesse, ou talvez eu usasse o telefone para chamar um táxi.

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