10 de junho de 2015

Não deixa o Conselho Federal de Psicologia saber o que tá acontecendo no futebol da Globo


Scott Pilgrim knows what's up

Uma das coisas que mais aprecio, e que tenho certeza que o telespectador desatento da programação do futebol no Brasil jamais nota, é que nossos comentaristas de arbitragem não se atêm a questões meramente técnicas. Não se prendem ao livro de regras. Não pretendem simplesmente dizer que aquela voadora foi falta ou lance-normal-segue-o-jogo.

Não.

A melhor parte do comentário nacional sobre a arbitragem de futebol são as análises psicológicas. Uma rica tradição encabeçada por Arnaldo Cézar Coelho que poucas pessoas percebem porque em geral ficam putas com os comentários merdosos que ele faz durante as transmissões de jogos.

Claro, óbvio que foi pênalti do Daniel Alves no Pogba na final da Champions, e claro que o Arnaldo falou merda dizendo que não foi, mas a melhor parte era quando ele ficava falando que o juiz estava nervoso.

Frases típicas do comentário sobre arbitragem nacional:
"Ele tá nervoso, tá perdendo o controle da partida."
"Agora ele não quer mais saber de jogo, vai apitar tudo."
"Vai dar 3 minutos só. Ele quer acabar esse jogo logo antes que se complique."
Gosto desse bate bola do Galvão e do Arnaldo falando das condições psicológicas do juiz. O problema nunca se deve à má aplicação das regras. Os problemas durante a partida são sempre um embate entre a subjetividade do árbitro e a subjetividade dos jogadores.

É uma coisa bem pós-moderna, bem faculdade de humanas. Arnaldo e Galvão estão discutindo para milhões de pessoas as dinâmicas psíquicas do poder dentro do campo de futebol e ninguém nota essa maravilhosa interação. Se der mole, dava até pra inserir uma citação a Foucault no meio e nem ia ficar deslocado.

Para a escola Arnaldo Cézar Coelho, o árbitro tem autoridade, mas ele deve exercê-la para não perder. Ele tem que instigar um temor psicológico nos jogadores. Ele tem que "manter o controle" do jogo. E quando ele faz "uma lambança", é porque estava "inseguro" e era psicologicamente incapaz de exercer a função.

A gente acha que tudo isso é normal, mas é coisa brasileira. Ninguém no exterior fica divagando sobre o estado mental dos árbitros. Pra eles, foda-se, mané autoridade. Para nós, não basta recitar o livro de regras. A gente tem que entender as motivações dos nossos juízes. Só assim a gente consegue racionalizar as decisões bosta que eles tomam.

É uma inovação da nossa locução esportiva que eu espero que sobreviva ao Arnaldo.

Mas total foi bem anulado o gol do Neymar de mão. Caralho, tem nem como discutir.

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