Não quero, contudo, que pensem que tenho má vontade de ler livros que me são incansavelmente indicados. Hoje, por exemplo, depois de muita insistência de muitas pessoas, comecei a ler "Feliz Ano Velho". Estou certo de que o amável leitor conhece "Feliz Ano Velho". É aquela história do cara que ficou paralítico aos 20 anos - o tal Marcelo Rubens Paiva. O prefácio, escrito por um sujeito chamado Luis Travassos, já me fez arrepender-me de não ter lido o livro antes:
"Marcelo, cara, peguei teu texto para ler em um dia de tremendo baixo astral. Como sempre acontece comigo (desde que te conheço), recebi uma porrada de energia na boca do estômago e o moral subiu dos intestinos para a cabeça."E prossegue, apaixonantemente:
"O teu livro está um barato, especialmente porque dá pra sentir um gozo aberto tipo poker descoberto. No fundo eu acho que a transa da literatura está ligada à transa da verdade (assim como a revolução, o amor e um montão de coisas). E é aí que está todo o pique do que você escreveu. A tua história está transada de um jeito putamente terno, bem-humorado, erótico e sedutor, o que, aliás, é a sua maneira de ser. (...)Segundo Marcelo Rubens Paiva, Luis Travassos foi presidente da UNE em 68 e tinha 36 anos quando escreveu esse prefácio, em 1981. Em virtude de seu vocabulário, Travassos foi perseguido pela ditadura e teve de se exilar em vários países. No entanto, creio que sua morte em 1982, aos 37 anos, tenha sido devida a um soco no estômago que, além do moral, levou outras estranhas substâncias à sua cabeça. O que mostra que tenho que ser mais aberto a sugestões literárias.
"Tem uma firmeza no teu texto que espero que você mantenha: é um texto limpo de teorias e com um puta sentimento que expressa e defende suas idéias. Por exemplo, é deliciosa a maneira como na história há elementos críticos sobre as pessoas, comportamentos etc. sem nenhuma cagação de regras ou ironias baratas, mas com uma puta firmeza."
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