22 de fevereiro de 2006

E o respeito aos deficientes? Mas e o respeito, meu Deus?

A diferença entre um repórter estrangeiro entrevistando a Madonna e um repórter brasileiro entrevistando a Madonna é que, enquanto o estrangeiro pergunta qual o último trabalho da Madonna, o brasileiro pergunta se ela conhece alguma coisa de música brasileira. Esse é o ponto principal da técnica de fazer entrevistas com estrangeiros, que, estou certo, não aprenderei no curso de jornalismo: deixar transparecer a imagem de que os brasileiros são megalomaníacos. E, ao final da entrevista - depois de ter perguntado se a Madonna já provou caipirinha e se já comeu feijoada -, o repórter brasileiro tem que pedir para ela "mandar um alô para os fãs brasileiros".

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A série "Percepções", ou algo assim, do Fantástico, leva uns deficientes para diferentes lugares da América do Sul para que eles experimentem diferentes sensações. Nada de especial, claro, porque eu sei que os humanos são todos como o Demolidor, que têm suas percepções aguçadas tanto maior forem suas privações. Viajam juntos um surdo, um cego e um paralítico, pelo que me lembro. O verdadeiro problema é o paralítico. Estavam outro dia as pessoas numa trilha no Deserto do Atacama, empurrando a cadeira do aleijado com uma grande dificuldade, passando por cima de pedras, porque a trilha não era espaçosa o suficiente. Então ele começou a reclamar de quem fez a trilha, dizendo que "poderiam pensar mais nos deficientes na hora de fazer essas trilhas". Qual! Tenho certeza de que quem abriu a trilha no deserto pensou que muitos paralíticos fariam travessias pelo deserto de sal!

Noutro dia, ele foi ao Equador, ver o marco da linha do Equador, e teve que subir escadas para ver o monumento. Novamente reclamou da falta de acesso aos deficientes físicos. De fato, creio que o tal deficiente pensa que monumentos e desertos são repartições públicas, que devem ter acesso para todos. Mas o melhor ainda estava por vir, quando ele visitou a cidade inca de Machu Picchu no Peru. Estava ficando decepcionado com a falta de protestos por parte do aleijado. Quando minha paciência se esgotava, ao final da matéria, o paralítico brindou os espectadores com sua revolta: "Eu sei que é difícil, mas podiam fazer umas rampas..." O que foi realmente decepcionante, porque, veja, eu esperava por algo surpreendente desta vez, como por exemplo "Malditos incas que não respeitam os paraplégicos, eu os amaldiçôo!". Mas assim é a vida, e há sempre um novo domingo pela frente com novas possibilidades.

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Estão acompanhando Lost? Tenho motivos para acreditar que Lost é uma reedição de Caverna do Dragão. Como em Caverna do Dragão, é possível que todos os personagens tenham morrido na queda do avião e que a ilha seja o Inferno. Jack é a reencarnação de Hank, só que sem o arco de força, que era a arma mais legalzona; a namorada de Jack seria, sei lá eu, a Sheila; o negão de Oz seria a Diana, e seu filho, o Bobby. Os ursos polares da ilha fazem o papel de dragão Tiamat. Provavelmente há correspondentes dos outros personagens, mas eu não fui capaz de correlacioná-los ainda. Oh, sim, há outro que me ocorreu. Aquele hobbit de O Senhor dos Anéis (o Merry ou o Pippin ou o Sam, um desses, não sei qual - são todos iguais, por Deus; enfim, vocês sabem qual é, é o que gosta da grávida), em Lost, na minha opinião, faz o papel de Uni, o unicórnio.

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