Muita gente, com inquebrantável racionalismo, chega pra mim direto pra falar que futebol é tosco, sem sentido, não passa de "22 homens correndo atrás de uma bola durante 90 minutos".
Venho tentando trazer essa atitude saudável ao meu quotidiano e mostrar ceticismo radical em todas as searas da minha vida.
Percebi que essa vibe de destrinchar detalhadamente do que se tratam nossas tarefas diárias é coisa muito poderosa, todo mundo fica desiludido.
Encontrei fulaninho saindo pro trabalho outro dia aqui no meu prédio e falei: "Opa, doutor! Já vai para o trabalho?" "Pois é!" "Entrar num carro, chegar numa sala, rabiscar papéis, apertar botões num teclado que fazem letras aparecerem numa tela... Qual o sentido?" Pude sentir o cara já meio desanimado enquanto ele virava chave na ignição.
Mas eu não estava satisfeito. Vi amigo meu rangando aquele dogão mais tarde e cheguei pro cara. "E aí, véi, e esse dogue aí?" "Maneiro, né, não? Capricharam." "Preparar um pão com carne no meio, salpicar com condimentos, depois ingerir enquanto suja os dedos. Pra quê? É tudo tão aleatório." Ali deu pra ver o apetite dele indo embora.
Porém, minha cartada final ainda estava por vir. Dias depois, vi aquela menina que já tinha me advertido de que futebol é palha e metafisicamente vazio. Ela tava lá com o iPod dela, curtindo um som, quando eu chego arrancando os fones de seu ouvido na maior falta de educação (porquê, pô, educação é tão sem significado) e mando:
- Isso que a gente ouve são apenas oscilações de pressão transmitidas pelo ar! O mundo não tem lógica!
E saí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário