10 de novembro de 2012

Coisas caras custam muito dinheiro

Brasileiros descobriram que pagam caro por carro e lançaram a campanha "Abaixo ao Lucro Brasil", mas devo dizer que estou mais preocupado com o transitivo indireto ali. Ao Lucro Brasil? Não sei, não, tá meio estranho isso aí.

Algum obcecado por gramática por aí pra resolver essa dúvida? Não serve gente que prestou o ENEM, a prova é muito interdisciplinar, eu quero aquele povo obcecado por regrinhas inúteis de português mesmo.

A ideia do "Lucro Brasil" é que os empresários se locupletam às custas da miséria da plebe, cobrando facada pra deixar o povão andar em carroças como o Gol 1.0.

Luta justa, nossos carros são caros e ruins mesmo, só que é no mínimo esquisita que a explicação que deem pra isso seja "é caro porque cobram caro :/".

Pô, mas por que cobram caro, Sherlock? São os impostos?

"Não, os impostos não explicam tudo! É por causa da ganância dos empresários."

Mas isso é estranho, porque ficam usando aquelas imagenzinhas que mostram margens de lucro para carros menores em outros países, como México e EUA. Quer dizer que os empresários americanos são menos gananciosos que os brasileiros? Que doideira, véio.

Mas como será que medem isso? O nível médio de ganância (NMG) é aferido pelas próprias margens de lucro ou fazem outros testes?

Imagino uma convenção de empresários do setor automotivo. Reúnem os representantes de montadoras de vários países. Pegam um Gol 1.0, mostram para os caras e perguntam: "E aí, cobraria quanto por isso?"

O mexicano chega e fala: "Uns 3 mil pila tá bom, né?"

O americano responde: "Eu cobraria uns 2 mil reais. Esse carro é de baixa qualidade."

O brasileiro esfrega as mãos, está salivando, seus olhos vermelhos: "Eu cobro 36 mil e tira o ar condicionado. Vou dar opcional pra esse povo gado porra nenhuma."

(Provavelmente o brasileiro estaria com a camisa amarela da seleção, é assim que brasileiros se vestem em qualquer ocasião quando no exterior.)

10 anos esta noite (na verdade, nem é)

De vez em quando eu verifico de onde ainda vêm as visitas a este blog e percebo que alguma alma abnegada vinda direto do ano de 2006 clicou no meu país no Mapa da Blogosfera Brasileira feito pelo André Dahmer décadas atrás.

É provavelmente meu maior orgulho - me deixa, não vou controlar as lágrimas - uma época mais simples, em que se sabia o que blogs eram e para que serviam.

Era um público que eu sabia cativar. Tinha toda a mandinga, os macetes, sabia os atalhos para chegar no coração da moçada.

Agora estou velho, decadente, mantenho este blog apenas como uma relíquia, algo que me prende ao passado.

A uma época em que os Malvados eram em preto e branco e só tinham aqueles dois bonecos tipo florzinha. Agora eu entro lá e a coisa toda é uma ruptura epistemológica. Não só tem cores mas tem uns bonecos de que eu nunca ouvi falar na minha vida. Tá parecendo videogame, hoje em dia é tudo cheio de botão, ninguém mais sabe jogar, né.

Sou formado em comunicação social e, à boca pequena nos corredores da academia, já se fala de uma "crise de sentido" na blogosfera brasileira.

Que talvez não seja maior do que a crise de sentido que neguinho enfrenta quando fica boladão ao clicar num link que o Bobagento dropa no meio dos "Links de Sexta".

Toda vez que o Bobagento bizarramente linka o meu blog (pô, pode continuar linkando, eu nem entendo por quê, mas acho maneiro), fico imaginando o visitante médio de lá chegando por aqui, vendo que não tem nenhuma figura e ficando tristonho: "Por que eu não tô rindo ainda. E esse monte de letra? Cadê os gifs? :("

E vê que eu tô imaginando o cara falando com pontuação e português corretos. E só um smiley. Então eu sei que a minha imaginação é muito irrealista, e acho que é isso que mantém meu blog ainda no ar depois de quase 10 anos.